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Mulher de ex-líder do PC elogia sua pena

Gu Kailai, condenada à morte pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood, não será executada

Julgamento é um dos maiores da história da China, a poucos meses da troca no comando político do país

DE PEQUIM

Gu Kailai, mulher do dirigente comunista chinês expurgado Bo Xilai, disse ontem na TV que sua condenação à morte por assassinar um empresário foi "justa":

"O veredicto é justo e reflete o respeito da corte em relação à lei, à realidade e, em particular, pela vida", disse.

Ela foi sentenciada pelo assassinato do britânico Neil Heywood, mas a aplicação da pena foi suspensa.

Foi o maior julgamento no país em 30 anos, em um momento especialmente delicado: dentro de alguns meses, a liderança política do país será trocada.

Bo era favorito para uma vaga na cúpula do partido até o escândalo vir à tona.

Apesar de o governo chinês ter imposto uma cobertura discreta aos meios de comunicação, a sentença provocou uma onda de críticas nos populares microblogs do país.

Como Gu, uma advogada bastante conhecida no país, é ré confessa, esperava-se que ela fosse executada.

"Um assassinato cometido seguindo um plano meticuloso e, no final, uma pena de morte suspensa? Que maravilhosa é a vida, que útil a lei pode ser, sempre que você tiver o partido para proteger você", escreveu o popular blogueiro Yao Bo.

O Judiciário é visto com desconfiança por parte da população chinesa, que vê favorecimento a pessoas protegidas pelo Partido Comunista, que nomeia os juízes.

A China é o país que mais pratica a pena de morte no mundo. O governo não divulga números, mas a Anistia Internacional estima que "milhares" tenham sido executados somente no ano passado.

O governo tentou controlar a repercussão do caso. A Folha apurou que o Departamento de Propaganda determinou que um dos maiores portais de notícias do país só publicasse textos da agência oficial de notícias Xinhua.

Segundo a versão oficial, Gu confessou ter matado Heywood por causa de divergências numa negociação.

Ambos seriam cúmplices num escândalo de corrupção. O empresário foi assassinado em novembro, num quarto de hotel em Chongqing, após a advogada tê-lo envenenado.

Bo não foi mencionado durante todo o processo. Seu futuro continua incerto.

O julgamento de Gu e de seu guarda-costas, Zhang Xiaojun (condenado a nove anos), no último dia 10 de agosto, durou apenas oito horas. Vários pontos da versão oficial são questionados.

Amigos de Heywood questionaram a veracidade da suposta ameaça que o empresário teria feito contra Bo Guagua, 24, filho do casal, que estudava na Universidade Harvard (EUA) na época do assassinato. Essa ameaça teria precipitado o crime.

Outro ponto de contestação é se Gu realmente participou do julgamento. A imprensa estatal chinesa divulgou imagens de apenas alguns segundos da sessão.

A aparência de uma Gu -gorda e bem diferente das imagens conhecidas- levantou especulações sobre se de fato era ela.

Para que o julgamento fosse mais discreto e controlado, Gu foi julgada em Hefei (leste), a centenas de quilômetros de Chongqing, megalópole de 32 milhões de habitantes onde Bo Xilai é popular. (FABIANO MAISONNAVE)

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