Análise

Polêmica sobre aborto pode arruinar evento republicano

A escolha feita pelo candidato republicano à Presidência dos EUA, Mitt Romney, de Paul Ryan como companheiro de chapa visou assinalar a intenção de sua campanha de se concentrar na economia americana.

Infelizmente, porém, o furor provocado esta semana pelas declarações do aspirante ao Senado Todd Akin sobre "estupro genuíno" ameaça converter a convenção do Partido Republicano em um desastre de relações públicas.

Mesmo que Akin ceda, com atraso, ao pedido de Romney de que desista de se candidatar ao Senado do Missouri, dúvidas quanto às posições de Romney-Ryan em relação às mulheres provavelmente continuarão a ser um tema central na eleição geral.

Para ter uma chance de recuperar o controle da discussão, Romney terá que encarar de frente algo que esperava poder evitar: terá que distanciar sua campanha, com firmeza, das posições sociais defendidas pela maioria de seu partido, incluindo seu companheiro de chapa.

Tal iniciativa não deixará de ter um custo. Por exemplo, Romney será acusado de hipocrisia. O ex-governador de Massachusetts já se posicionou de praticamente todos os lados na questão do aborto.

É fato que, mesmo depois de ter se desviado para a direita nas primárias republicanas, Romney manteve a posição de que o aborto deve ser autorizado em casos de estupro ou incesto.

Mesmo essa exceção difere da posição do resto de seu partido, que esta semana redigiu sua plataforma para a convenção, defendendo o apoio a uma emenda constitucional que tornaria o aborto ilegal sob quaisquer circunstâncias.

Após as declarações de Akin, a questão do aborto ofereceu mais um presente de relações públicas à campanha de Obama.

Romney precisa assinalar com clareza que nem ele nem Ryan irão implementar esse elemento da plataforma republicana. Mas se o candidato se distanciar mais claramente da direita cristã, com certeza será acusado de pouco caso com seus partidários.