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'Chávez é autoritário, mas fundamental'

Ex-assessora do venezuelano, escritora chilena Marta Harnecker defende reeleição do presidente em outubro

Para a militante marxista, falta ao governo brasileiro facilitar o processo de organização popular

Ariana Cubillos/Associated Press
O presidente Hugo Chávez abraça uma venezuelana durante sua visita ontem a uma refinaria de petróleo que explodiu
O presidente Hugo Chávez abraça uma venezuelana durante sua visita ontem a uma refinaria de petróleo que explodiu

ELEONORA DE LUCENA
DE SÃO PAULO

Ela se define como "educadora popular" marxista-leninista. Chilena, foi discípula do filósofo Louis Althusser, líder estudantil católica e integrante do governo socialista de Salvador Allende.

Casou-se com um comandante da revolução cubana (Manuel Piñeiro, o Barba Roja) e nos anos 2000 virou conselheira de Hugo Chávez.

Marta Harnecker conta que escreveu mais de 80 livros. O mais conhecido, "Conceitos Elementares do Materialismo Histórico", ela diz que vendeu mais de 1 milhão de exemplares.

Aos 75 anos, viaja pela América Latina e afirma estar otimista: os EUA já não fazem o que querem e o conceito de soberania cresceu.

Hoje morando em Vancouver (Canadá), ela considera Hugo Chávez, que disputa reeleição em outubro, um "líder revolucionário fundamental", mas uma "pessoa contraditória": "Ele é um militar que crê na participação popular. O importante é ver o fruto dessa coisa".

A Venezuela é o país menos desigual do continente.

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Folha - Como avalia a situação na América Latina?
Marta Harnecker - As situações mais avançadas estão na Venezuela, Bolívia e Equador. A concepção desses governos é de uma sociedade alternativa ao capitalismo, em que as pessoas tenham pleno desenvolvimento. No Brasil, na Argentina e no Uruguai os governos são mais moderados, mas tomam medidas de soberania. Todavia, temos o império presente.

Como a sra. explica a oposição de movimentos populares ao governo Morales?
São as contradições que vivem os processos. Se chega ao governo, mas com uma correlação de forças no Parlamento, nos governos locais, nos meios de comunicação e no poder econômico em que permanecem os que dominavam antes. A população quer soluções imediatas.

O poder dos EUA diminuiu?
Os EUA já não podem fazer o que querem. Mas seu poder é imenso. Há uma contraofensiva dos EUA que se reflete em casos como o de Manuel Zelaya (Honduras) e no golpe contra Fernando Lugo (Paraguai). Estão tentado refazer um golpe na Bolívia, com setores da oposição que se aproveitam das contradições no interior do povo. Não há perigo iminente. A melhor defesa é ter um povo organizado. Chávez entendeu isso. Sempre insiste em dizer que não podemos resolver a pobreza se não dermos poder ao povo. Não digo que não haja defeitos do homem Chávez. Vivemos processos humanos, não de deuses.

Como avalia o Brasil?
Os setores dominantes se consolidaram, o agronegócio. O capital financeiro e as transnacionais têm poder enorme. Mas há atenção aos setores populares. Falta o governo facilitar mais o processo de organização popular. Vai ocorrendo um distanciamento entre partido e governo. Quadros do setor popular passam a ter postos no governo. Creio que há provavelmente a deformação de muitos dirigentes, que deixam de representar os interesses populares.

Há diferença entre partidos?
Partidos não compreendem a política como a arte de construir forças sociais, mas como forma de ganhar postos no governo. A esquerda muitas vezes faz uma prática igual à direita: clientelismo, personalismo, carreirismo, às vezes até corrupção. O povo vê discursos e práticas iguais e se decepciona.

Como foi sua aproximação com Chávez?
Fui entrevistá-lo em 2003. Recolhi críticas e dúvidas sobre o governo. Ele gostou muito que eu lhe transmitisse as críticas e me convidou para trabalhar no palácio. Vivi seis anos na Venezuela.

A sra. acha que Chávez é uma pessoa autoritária?
Chávez é um militar que crê na participação popular e quer promovê-la. E que como pessoa é contraditória. Tem que se respeitar essa contradição. Queríamos que não fosse tão autoritário, mas entendemos. O importante é ver o fruto dessa coisa. Se comparamos a Venezuela do primeiro ano com a de hoje, temos gente com personalidade, que critica, que cresceu como ser humano.

Como observa a sucessão de Chávez?
Não há ninguém na mesma altura. O liberalismo fragmentou os setores populares. É preciso pessoas com grande carisma e uma personalidade muito forte para aglutinar esses setores. Recordo de uma das primeiras viagens que fiz com Chávez para a inauguração de uma escola. Um homem pediu um caminhão. Chávez sugeriu que ele se organizasse com outros numa cooperativa para obter o veículo. Não há populismo. Ele é um dirigente revolucionário. Chávez é fundamental para o processo na América Latina.

Leia a íntegra
folha.com/no1143896

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