Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Colômbia e Farc negociarão sem cessar-fogo

Presidente Santos promete pressão militar durante diálogo que começa em outubro; em Cuba, Farc pedem paz justa

Brasil e EUA saúdam a iniciativa, mas ex-presidente Uribe diz que a ideia de Santos é uma 'bofetada na democracia'

DE SÃO PAULO

O governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) começarão a discutir o fim do conflito armado em outubro, na Noruega, sem cessar os combates em seu país e à espera do debate no Legislativo que definirá regras legais às quais ex-guerrilheiros serão submetidos no futuro.

O presidente Juan Manuel Santos e o comandante das Farc, Rodrigo Londoño, o Timochenko, confirmaram a agenda de negociações em discursos coordenados e com pontos coincidentes.

Em Bogotá, Santos fez pronunciamento pedindo "paciência e força" aos colombianos durante a negociação.

Para se afastar do fantasma das negociações fracassadas de 1998, enunciou diferenças, entre elas a de que não haverá cessar-fogo.

"Trabalhamos com seriedade e, devo reconhecer, as Farc também. [...]Se as Farc abordarem a seguinte fase com a mesma seriedade, temos boas perspectivas."

Exatamente uma hora depois, as Farc se pronunciaram, em Cuba, um dos países fiadores da negociação, ao lado da Noruega.

Em Havana, guerrilheiros sem farda apresentaram um vídeo de Timochenko. "A conquista de uma paz democrática e justa merece que afrontemos os mais difíceis desafios. Acima de tudo, estamos otimistas", disse.

No discurso, Timochenko prometeu chegar à mesa de negociação sem "rancores". O trecho fez parte do vídeo divulgado anteontem pelas Farc, um videoclipe que comentava o processo ironizando Santos ao som de cúmbia.

O guerrilheiro usou a retórica de esquerda clássica, com ataque "às elites" e ao "imperialismo". Mas ao falar da plataforma das Farc, citou que buscavam "profundas modificações", e não ruptura, da "ordem vigente". Falou em "ampliar a democracia" e distribuição de renda, tema também de Santos.

No comando de 8.000 combatentes -metade do que tinham há dez anos-, ele disse que "multidões" apoiavam as causas das Farc. Há anos a guerrilha, que mantém estimados 400 reféns civis à espera de resgate na selva, não tem apoio popular relevante.

A Venezuela e o Chile, que serão "acompanhantes do processo", e os EUA, um dos financiadores da luta antidroga e anti-Farc na Colômbia, saudaram o anúncio. A presidente Dilma Rousseff disse, em nota, que as conversas eram "motivo de celebração".

LEI DA PAZ E URIBE

Santos disse que a negociação durará "meses, e não anos" e que, se falhar, assumirá "o peso da decisão".

Com intenções ainda não oficiais de tentar a reeleição em 2014, o presidente faz aposta arriscada no momento que sua popularidade cai. A seu favor, conta com ampla base parlamentar.

O ataque ao anúncio veio do ex-presidente Álvaro Uribe, ex-aliado de Santos, que chamou o acordo de "uma bofetada na democracia".

A negociação de paz começa sem que o Legislativo da Colômbia tenha regulamentado o "Marco Legal para Paz", reforma constitucional aprovada neste ano.

Falta definir, por exemplo, o conceito de "delito político" e quem poderá participar da política, um dos pontos da negociação de paz.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.