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Clóvis Rossi

Europa entra em modo DR

Premiê italiano quer discutir o casamento entre os 27 países, que dá todos os sinais de crise

O primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, sugere convocar uma cúpula extraordinária da União Europeia para discutir a relação. Já ganhou a adesão do presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, ante a evidência de que o casamento dos 27 países não anda bem.

"A Europa se encontra em uma fase perigosa. O populismo está tentando desintegrá-la", adverte o premiê italiano.

Não é só o populismo. Escreve, por exemplo, George Soros, investidor que em geral é instigante analista: "Aos problemas financeiros se uniram o de desintegração política.

A UE encarnava uma associação de Estados que cediam parte de sua soberania para o bem de todos. A crise a está convertendo em algo muito diferente".

A eleição holandesa de amanhã é o mais recente exemplo da "fase perigosa" e das transformações.

A Holanda era, até cair seu governo de centro-direita, em abril, um baluarte da Europa da austeridade.

É, também, historicamente "europeísta", até porque se trata do segundo país que mais ganhou com o euro, após a Alemanha. Passou de um saldo em conta corrente -que mede todas as transações com o exterior- de € 40,2 bilhões em 2002 para os € 65,7 bilhões de 2012.

O lucro com a Europa não foi suficiente para que a eleição se desse em ambiente de amor ao euro. O partido que as pesquisas apontam como o de maior crescimento é o socialista, que nasceu há 40 anos como maoísta, mas abandonou Mao, Marx e Lênin sem, no entanto, aderir ao liberalismo, ao contrário de seus congêneres europeus.

Há um mês, o PS até dava a impressão de que faria a maioria, ainda que relativa (não há hipótese, na Holanda, de um governo majoritário de um só partido), passando de 15 cadeiras para 33, em um Parlamento de 150 vagas.

Seu líder, Emile Roemer, é tão antiausteridade que chegou a chamar de "idiotia" aplicar o teto de 3% de deficit público, que é um dos pilares sobre os quais se construiu o euro (os outros dois são limites para a dívida e para a inflação).

Como a extrema direita, xenófoba e antieuro, não apenas antiausteridade, também é relativamente forte, ainda que em queda, o quadro geral "forçou o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, e o Partido Liberal, de centro-direita, a incorporar algum euroceticismo em suas plataformas", analisam Adriaan Schout e Jan Marinus Wiersma, do Instituto Clingendael de Relações Internacionais.

É razoável supor que essa guinada trouxe os eleitores de volta aos partidos tradicionais: os liberais, que governam aliados à Democracia Cristã, e os trabalhistas chegam ao pleito empatados, com cerca de 30 cadeiras. Mas os socialistas, que jamais fizeram parte de uma coligação de governo, em um país em que elas são uma característica permanente, serão os de maior crescimento (ganharão entre 6 e 13 cadeiras, conforme as diferentes pesquisas).

Está, pois, em aberto a maneira como a Holanda será governada, mas, em relação ao euro, está claro que ficará entre a resignação com a austeridade ("regras têm que ser cumpridas", diz Schout) e o desamor.

crossi@uol.com.br

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Julia Sweig

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