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Análise

Nem o profeta nem a princesa, o vencedor é o sensacionalismo

NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO

VIRAIS, O VÍDEO E AS FOTOS TÊM EM COMUM A APELAÇÃO "SOFT PORN"

O Google se recusou a tirar do ar o vídeo que ridiculariza Maomé, que tem até cena de sexo oral sugerido, dizendo que ele não violava suas normas sobre "discurso de ódio". E ontem a revista francesa "Charlie Hebdo" publicou caricatura de Maomé seminu, sendo mais tarde cercada pela polícia, mas só para protegê-la dos eventuais protestos muçulmanos.

Por outro lado, dias atrás, a também francesa "Closer" publicou fotos da princesa inglesa Kate Middleton com os seios nus -e um tribunal local, a pedido da monarquia vizinha, ordenou que a revista entregasse os arquivos digitais das imagens, proibindo a sua veiculação no país.

Ontem, a mesma polícia que havia saído para proteger a redação da "Charlie Hebdo" invadiu a redação da "Closer", atrás de informações sobre o fotógrafo.

Antes, registre-se, o fotógrafo havia tentado vender as imagens da princesa na Inglaterra, sem achar comprador, nem sequer o "Sun" que, semanas atrás, publicou cenas de um príncipe Harry também nu.

No primeiro caso, do vídeo, a liberdade de expressão se sobrepôs a qualquer limite para o discurso de ódio. Já no segundo, das fotos, o direito à privacidade se sobrepôs à liberdade de expressão, inclusive na própria opinião pública ocidental.

Para além do debate sobre direitos, porém, o que venceu no primeiro caso, dos Estados Unidos à França, foi a islamofobia, mais do que propriamente a liberdade de expressão. No segundo, da Inglaterra à França, venceu a princesa célebre.

E na realidade todos saem perdendo. O vídeo injurioso jamais deixaria a internet, de qualquer jeito, baixado que foi por todo lado, mundo afora. Também as fotos dos seios de Kate Middleton estarão lá para sempre, reproduzidas ilimitadamente.

O vencedor dos dois episódios paralelos já estava definido desde que o vídeo e as fotos se tornaram virais, via internet: o sensacionalismo "soft porn".

O vídeo, como revelaram os sites Vice e Gawker, havia sido rodado por um diretor da própria indústria de pornografia leve da Califórnia, Alan Roberts, com elenco também da área. E só ecoou porque foi reproduzido e atacado por um Glenn Beck (ou José Luiz Datena) do canal salafista Al Nas, egípcio, mas com transmissão via satélite para o mundo sunita.

Já as fotos foram publicadas por uma publicação, a "Closer", de ninguém menos que Silvio "Bunga Bunga" Berlusconi.

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