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Greves testam governo da África do Sul

Liderança do presidente Jacob Zuma vive prova de fogo, em meio a amplas críticas públicas por repressão violenta

Analistas preveem mais protestos; mineiros de Marikana encerram greve após acordo para aumento salarial

CAROLINA MONTENEGRO
DE SÃO PAULO

Após quase seis semanas de greve, protestos e violência, a paralisação de mineiros acabou na África do Sul, mas o país vive aguda crise social e política.

Os trabalhadores da mina de platina Marikana, no norte sul-africano, voltaram ao trabalho anteontem após acordo para aumento salarial de 22%. Analistas, porém, preveem mais turbulências.

O saldo da crise: 34 mineiros mortos (no massacre de Marikana, em que a polícia abriu fogo contra um protesto de mais de 3.000 mineiros), US$ 543 milhões de prejuízo acumulado com a paralisação, sindicatos em pé de guerra com o governo e uma crise de liderança nacional.

"[O presidente Jacob] Zuma estava com medo de enfrentar a situação e perder popularidade, porque em dezembro haverá a conferência do CNA [seu partido], que deverá reelegê-lo ou não. Ele poderia ter impedido o massacre", afirmou à Folha William Gumede, colunista do jornal "The Guardian" e pesquisador de política sul-africana em Oxford (Reino Unido).

Zuma e o CNA (Congresso Nacional Africano, no poder há 18 anos) vivem prova de fogo, após amplas críticas pela repressão violenta à greve.

Ontem, o governo expediu ordem de prisão, por corrupção, para o oposicionista e ex-CNA Julius Malema, um dos principais agitadores da greve e crítico de Zuma.

Para Gumede, o fim da greve não é sinônimo de tranquilidade na África do Sul. Ao contrário, ele vê o massacre de Marikana como um ponto sem retorno. A desigualdade crescente, por trás da crise, deve continuar alimentando protestos no país.

"O episódio em Marikana mudou toda a relação da indústria mineradora na África do Sul. Outros setores, além da platina, como o ouro, também estão se unindo por melhores salários. As mineradoras terão de dar mais aumentos, porque senão haverá uma revolta conjunta nas minas", afirmou Gumede.

Ontem, a Associated Press relatou uma nova greve de mineiros em Kopanang -mina produtora de ouro de propriedade da AngloGold.

Em 2011, a África do Sul se tornou o país mais desigual do mundo, passando o Brasil, segundo o Banco Mundial.

"Desde 1994, com o fim do apartheid, alguns poucos negros enriqueceram. E estes hoje são ligados ao CNA", afirmou Vishwas Satgar, palestrante na Witts University em Johannesburgo.

O cenário se reflete no setor de mineração, tido como o coração da África do Sul -maior produtor de ouro do planeta e de onde 70% da platina mundial é extraída.

Enquanto o presidente da Lonmin, proprietária da mina Marikana, ganhou 15,8 milhões de rands (R$ 3,8 mi) em 2011, mineiros operadores de brocas receberam salário de 4.500 rands (R$ 1.093).

Satgar também destaca os laços estreitos do CNA com o setor de mineração. Segundo ele, desde 1994, muitos dos secretários da União Nacional dos Mineiros se tornaram líderes no CNA.

A periculosidade da mineração é notória no país. "Até hoje, há mais gente morrendo em minas na África do Sul do que em qualquer outro lugar do mundo", acrescentou.

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