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Análise

Transição chinesa está pior do que previa Partido Comunista

ERIC VANDEN BUSSCHE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há uma década, a China assistia à primeira transição pacífica de poder desde a revolução de 1949, com o governo passando à quarta geração de líderes encabeçada pelo presidente Hu Jintao.

Neste ano, o Partido Comunista chinês esperava repetir uma sucessão política sem percalços. Para alcançar esse objetivo, as lideranças chinesas chegaram a designar Xi Jinping como o provável sucessor de Hu já em 2007.

Mas acontecimentos recentes mostraram que o processo não seria tão tranquilo quanto o PC desejava.

O expurgo do carismático líder Bo Xilai, cotado até então para ocupar um assento no alto escalão do governo, a prisão de sua mulher, Gu Kailai, pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood e o recente sumiço de Xi por duas semanas serviram para alimentar os mais variados rumores sobre as disputas internas pelo poder.

Esses episódios expuseram as tensões entre as facções no PC, que se esforçam para chegar a um consenso acerca dos nomes que integrarão o Politburo, o comitê responsável pelas principais decisões sobre os rumos do país.

Não se trata da maior crise política desde 1989, ano dos protestos na Praça da Paz Celestial. Ao orquestrar a sua sucessão na década passada, por exemplo, o então presidente Jiang Zemin precisou travar uma dura disputa com a facção mais conservadora e nacionalista do ex-primeiro-ministro Li Peng, contrária às reformas econômicas e à aproximação dos EUA.

A busca de um consenso entre as facções sobre as diretrizes político-econômicas e os futuros membros do Politburo deve ser enxergada como consequência de um processo iniciado há 30 anos pelo então líder Deng Xiaoping, que aos poucos transformou a natureza e o comportamento político do PC.

Após tomar as rédeas do poder em 1978, ele resolveu introduzir mudanças no sistema político para evitar que o poder ficasse concentrado nas mãos de um líder carismático e de seu grupo, como ocorrera durante a era maoísta (1949-1976).

Deng Xiaoping pretendia criar instituições mais estáveis, acabando com abusos de poder. Foram impostas aposentadorias compulsórias, bem como medidas que estabeleciam que ninguém poderia ocupar um mesmo cargo no alto escalão por mais de dez anos.

Por meio de suas reformas, Deng Xiaoping inaugurou um processo que gradativamente diluiu o poder entre as facções do PC, criando uma elite política mais pluralista que necessita estabelecer alianças internas para governar.

Alguns observadores expressam o temor de que esse pluralismo interno acabe criando obstáculos a Xi.

O desafio dele nos próximos anos será conciliar os interesses das diferentes lideranças políticas de uma forma que lhe permita adotar as medidas necessárias para resolver os problemas sociais e econômicos. Isso talvez também signifique estender a mão aos críticos do regime.

A julgar pelas tensões internas do PC durante esse processo sucessório, a tarefa de Xi Jinping não será fácil.

ERIC VANDEN BUSSCHE é historiador da Universidade Stanford (EUA)

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