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Livro e CDs têm gravações feitas por Kennedy

Recém-lançada, obra traz conversas que o presidente registrava sem que assessores soubessem

KATHARINE Q. SEELYE
DO “NEW YORK TIMES”, EM BOSTON

O presidente John Kennedy (1917-1963) abriu o jornal em certa manhã de 1963 e descobriu, horrorizado, que militares haviam ordenado a instalação de um leito hospitalar em uma base aérea em Cape Cod caso a primeira-dama Jacqueline, grávida, entrasse em trabalho de parto.

Ele acreditava que os US$ 5.000 gastos em mobília eram um desperdício e poderiam provocar um desastre de relações-públicas capaz de levar o Congresso a cortar seu orçamento militar. Zangado, apanhou o telefone.

Primeiro, deu uma bronca em um de seus assessores de imprensa. Exigiu que a mobília fosse devolvida e que os responsáveis -"incluindo o idiota que se deixou fotografar ao lado do leito"- fossem transferidos para o Alasca.

Depois, ligou para o general Godfrey McHugh, seu ajudante de ordens da Força Aérea. "Por que diabos eles permitiram que os jornalistas vissem o quarto?", perguntou o presidente. "Vocês acabam de torpedear o orçamento!"

E as broncas não foram o suficiente para que ele controlasse sua raiva quanto ao assessor que se deixou fotografar ao lado do leito: "Não queria tê-lo nem dirigindo um bordel". Antes de desligar, ainda definiu todo o episódio por meio de um palavrão.

Sabemos disso tudo pelo próprio Kennedy. Ainda que nem alguns de seus assessores mais próximos soubessem disso na época, Kennedy gravou mais de 260 horas de suas conversas no Salão Oval e correspondências ditadas ao seu Dictaphone.

A John F. Kennedy Library Foundation está publicando os momentos mais interessantes das gravações em um volume contendo transcrições, anotadas, e dois CDs de áudio. Algumas gravações estarão disponíveis na web.

O livro, "Listening In: The Secret White House Recordings of John F. Kennedy" ("na escuta: as gravações secretas de John F. Kennedy na Casa Branca", em tradução livre), tem prefácio de Caroline Kennedy, a filha do presidente, e introdução de Ted Widmer, da Universidade Brown.

Para Thomas Putnam, diretor da Biblioteca Kennedy, a obra oferece a "matéria-prima da história". "É a autobiografia que o presidente Kennedy jamais pôde escrever."

Em reunião em novembro de 1962, o presidente disse com franqueza ao administrador da Nasa, James Webb, que levar um homem à Lua era sua maior prioridade.

Webb respondeu que era mais importante compreender o ambiente do espaço, o que levou Kennedy a responder: "Se chegarmos à Lua em segundo lugar, será bom, mas será como chegar em segundo em qualquer outra coisa".

O administrador da Nasa continuou a argumentar, levando o presidente a reiterar a mensagem de modo explícito: "Não estou assim tão interessado no espaço. O que quero é derrotar os russos".

Vários presidentes instalaram dispositivos ocultos de gravação no Salão Oval, desde o governo de Franklin Roosevelt. Quase ninguém sabia disso até que a existência das gravações de Richard Nixon foi revelada em 1973, durante o caso Watergate.

O sistema de gravação de Kennedy foi desmontado logo após seu assassinato, em novembro de 1963. A família guardou as gravações até 1976 e então as doou ao Arquivo Nacional dos EUA.

A Biblioteca Kennedy as adquiriu e começou a permitir o acesso de historiadores a partir de 1983. O processo foi longo, porque a qualidade de som era desigual e era preciso transcrever e classificar as gravações quanto a sigilo. As 45 horas finais só foram liberadas neste ano.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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