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Dilma critica os EUA e nega acusações de protecionismo

Discurso da presidente na ONU faz referência direta a ação do BC americano

Mandatária brasileira defende diálogo na Síria, vê 'islamofobia' no Ocidente e volta a atacar embargo a Cuba

RAUL JUSTE LORES
DE NOVA YORK

Em um discurso com várias alfinetadas aos EUA, a presidente Dilma Rousseff criticou a estratégia do Banco Central americano de ampliar a circulação da moeda como medida anticrise, o embargo a Cuba, políticas "neocolonialistas" e fez referência à "legítima defesa comercial" na Assembleia-Geral da ONU.

Disse ainda que só "diplomacia e diálogo" podem colocar fim à violência na Síria.

Sua fala, focada na crise e sugerindo um pacto fiscal global pelo crescimento, fez referências diretas à injeção de dinheiro feita pelo BC dos EUA e à crítica americana ao "protecionismo brasileiro".

O Brasil faz o discurso de abertura da reunião anual da Assembleia-Geral da ONU desde que Oswaldo Aranha iniciou a tradição, em 1947.

Em entrevista, Dilma disse que "moeda desvalorizada é dos mais conhecidos mecanismos de competição" e que o "dinheiro expandido" (compra de títulos pelos EUA, injetando "o equivalente a um PIB do Brasil" em dólares no mercado, segundo Dilma) "não vira investimento".

"Quando nosso mix de juros e câmbio era atraente, vinha esse 'hot money' [dinheiro quente] para o Brasil. Não era investimento, vinha apenas para o mercado financeiro", afirmou. O excesso de dólar no mercado sobrevaloriza o real artificialmente e encarece as exportações do país.

"Não podemos aceitar que iniciativas legítimas de defesa comercial dos países em desenvolvimento sejam injustamente classificadas como protecionismo", disse.

A presidente celebrou o crescimento brasileiro e criticou ações de austeridade de países desenvolvidos. Voltou a defender o reconhecimento da Palestina como membro pleno da ONU e a reforma do Conselho de Segurança -pedido antigo do Brasil.

"Não vejo sinais de avanço na reforma da ONU, mas caminhamos para um mundo multipolar. Quando a realidade se impõe, a mudança é inexorável", disse Dilma.

A presidente declarou ainda que condena a violência na Síria e atribuiu a "maior parte da responsabilidade" ao governo, mas também culpou as "oposições armadas". Apontou, ainda, "islamofobia" crescente no Ocidente.

No discurso de 25 minutos, menos aplaudido que o do ano passado, ela também falou de Olimpíada e Copa no Brasil, da Rio+20 e de Cuba, "país-irmão" -que segundo ela "atualiza" seu modelo econômico, mas é prejudicado pelo "embargo que há décadas golpeia a população".

Dilma foi sucedida na tribuna por Barack Obama; eles se cumprimentaram e perguntaram um ao outro sobre suas famílias. Mas não houve reunião, que chegou a ser confirmada por um assessor da Presidência brasileira à Folha na semana passada.

Ela ainda falou com os presidentes do Egito e da Indonésia e, à noite, recebeu em seu hotel a visita do ex-presidente dos EUA Bill Clinton.

Clinton, que disse "amar" o Brasil, afirmou ter tratado de economia com Dilma, elogiou o trabalho brasileiro no Haiti e disse que quer levar sua ONG Clinton Global Initiative ao Brasil em 2013.

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