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Análise

Punch foi um dos últimos integrantes de espécie em extinção

SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-EXECUTIVO

Foi durante a gestão de Arthur Ochs Sulzberger que o "New York Times" se tornou o jornal mais importante do mundo.

Nas quase três décadas em que ele esteve à frente do diário (1963-1992) e da empresa (1963-1997), o jornal norte-americano ampliou e consolidou sua circulação nacional, reforçou sua independência editorial e iniciou inovações como o uso de cor, a ampliação de cadernos e a criação de suplementos.

No período, também, diversificou seus ativos e superou duas crises financeiras, nos anos 60 e 70, sem que a família fundadora perdesse o controle da empresa.

Ao longo das últimas décadas, dívidas e a pulverização dos membros das gerações seguintes à dos fundadores fizeram com que companhias como Knight-Ridder (do "Miami Herald", entre outros) e Times-Mirror (do "Los Angeles Times") fossem vendidas ou absorvidas pelo mercado e gerenciadas por profissionais sem intimidade com jornalismo, nem sempre com resultados positivos.

Continuaram familiares o próprio "New York Times", hoje tocado por Arthur Ochs Sulzberger Jr., 61, e o "Washington Post", que tem à frente Katharine Weimouth, 46, neta de Katharine Graham (1917-2001), a publisher icônica do diário que revelou o escândalo do Watergate.

O apelido de infância pelo qual Sulzberger ficou conhecido e de que se orgulhava -"Punch", soco, em inglês- é a origem, por tabela, do apelido irônico com que críticos chamavam seu filho no começo da gestão sucessória -"Pinch", beliscão.

Sulzberger foi um dos últimos representantes de uma espécie hoje em extinção nos Estados Unidos, a do publisher todo-poderoso, que se guia principalmente por suas convicções.

(Outro representante seria Rupert Murdoch, 81, da News Corp., proprietária do diário econômico "Wall Street Journal". Mas o australiano naturalizado norte-americano é considerado um outsider por seus pares e sofreu um golpe importante com o escândalo dos grampos que espionavam celebridades e autoridades para o "News of The World", seu tablóide no Reino Unido.)

Punch Sulzberger sabia ainda equilibrar bem as duas pressões às vezes antagônicas que pesam sobre um grande jornal, a do mercado e a de seu papel institucional. Repetia que o segredo da independência editorial era a independência financeira.

Na véspera do episódio conhecido como Papéis do Pentágono, em 1971, advogados do "New York Times" desaconselharam Punch a seguir adiante com a publicação, segundo escreve Susan Tifft, co-autora de "The Trust", livro sobre o jornal. Entre outros problemas, a pressão do governo sobre anunciantes poderia levar a empresa à ruína, acreditavam.

Ele os publicou, o que fez com que a Casa Branca de Richard Nixon tentasse proibir a circulação do jornal. O caso extraiu da Suprema Corte dos EUA uma decisão pró-liberdade de imprensa que sobrevive até hoje e ajudou a elevar o prestígio do "Times".

Membro da terceira geração de proprietários do jornal, Punch Sulzberger desmentiu a maldição que ele mesmo gostava de repetir, segundo a qual "a primeira geração constrói, a segunda desfruta e a terceira destrói".

Ao se aposentar, em 1997, ele passou ao filho o comando de um grupo de comunicações entre os maiores do país, que naquele ano teve um faturamento anual de US$ 2,6 bilhões.

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