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Análise

Veredicto hoje do mordomo do papa está entre as esquisitices que afetam a Santa Sé

Réu seria um purista que queria afastar a corrupção

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por estar associado a uma burocracia teológica, o Vaticano raramente é visto como moradia do pecado ou do crime. É essa a razão que dá uma dimensão insólita ao veredicto, hoje, de Paolo Gabriele, 46, ex-mordomo de Bento 16, preso em 23 de maio sob a acusação de furtar documentos confidenciais e vazá-los para a mídia.

O episódio se juntou a outras esquisitices que afetaram a Santa Sé. Em maio de 1998, foram assassinados Alois Estermann e sua mulher. Ele havia sido nomeado horas antes para a chefia da Guarda Suíça, uma espécie de Exército em miniatura do pequeno Estado incrustado na cidade de Roma. O autor do homicídio foi um outro guarda suíço, Cédric Tornay. João Paulo 2º presidiu os funerais do oficial, e o duplo homicídio ficou por isso mesmo.

Mas na recente história do Vaticano a cereja mais esquisita foi colocada no bolo em 1982. O corpo do banqueiro italiano Roberto Calvi foi encontrado, pendurado, sob uma das pontes de Londres.

Ele era diretor do Banco Ambrosiano, cujo principal acionista era o Banco do Vaticano. A história nunca foi esclarecida. O Ambrosiano se dirigia na época para uma falência bilionária. O Banco do Vaticano tinha como gestor o arcebispo Paul Casimir Marcinkus, que não chegou a ser julgado pela Justiça italiana porque, como a Santa Sé é um país soberano, ele tinha imunidade diplomática.

O curioso é que, agora, o ex-mordomo Paolo Gabriele se interessava pelo episódio, objeto de centenas de recortes encontrados entre os 80 quilos de seu arquivo, ao lado de documentos surrupiados do papa.

Um dos que socorrem a reputação de Gabriele é o jornalista Gianluigi Nuzzi, autor de um livro sobre disputas internas no Vaticano a partir da gestão de Carlo Maria Viganò, desde 2009 uma espécie de gerente administrativo que teria demonstrado superfaturamento e favorecimento de empresas entre seus predecessores.

O ex-mordomo, disse Nuzzi ao "Libération", é um purista que queria ajudar Bento 16 a se livrar da corrupção.

Era bem diferente antes de 1870, quando os Estados Pontifícios eram uma monarquia absoluta e tinham uma polícia política.

Ela foi particularmente cruel em 1798, quando as tropas napoleônicas se preparavam para tomar Roma. A ópera "Tosca", de Giacomo Puccini, traz uma versão romantizada da época.

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