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Análise

Nova gestão do presidente terá o desafio de ajuste econômico

CHRISTOPHER GARMAN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hugo Chávez certamente saiu das urnas fortalecido. Com ampla votação, ele deve usar sua margem de vitória para centralizar mais poder nas mãos do Executivo.

A oposição saiu derrotada, mas tem chances concretas de capturar governos estaduais nas eleições de dezembro.

Logo, o projeto do presidente de criar "comunas" (comitês de bairros) com dinheiro federal, na prática, representa uma tentativa de subverter o poder de governos estaduais que podem estar controlados pela oposição.

Mas o cenário pós-eleitoral será muito mais pautado por dois outros fatores.

Primeiro, o governo terá que fazer um ajuste econômico nada popular. A economia deve crescer algo ao redor de 4,5% neste ano. Muito dessa expansão foi fruto de aumento de gastos -não é sustentável. A dívida soberana do país deve chegar a 52% do PIB em 2012.

Igualmente importante, com a empresa estatal de petróleo PDVSA gastando US$ 7,6 bilhões no primeiro semestre deste ano, sua capacidade de investir na produção de petróleo vem sofrendo -algo que ficou exposto de forma dramática com a explosão de sua refinaria no mês passado.

O governo provavelmente será forçado a fazer uma combinação de redução de gastos com uma desvalorização da moeda. Se o primeiro significa menos dinheiro para programas sociais, o segundo pode elevar a inflação dos atuais 19% para 30%.

Mesmo que Chávez venha a fazer novas nacionalizações em setores pouco estratégicos, no que importa -petróleo- a política deve ser de tentar atrair empresas estrangeiras com novos incentivos.

O segundo será a saúde do presidente. A Carta dita que nova eleição ocorra em 30 dias se o presidente não for capaz de permanecer no cargo durante os quatro primeiros anos de seu mandato.

As especulações em Caracas sobre a saúde de Chávez permanecerão elevadas, a despeito de sua afirmação de que já superou o câncer.

Dentro do chavismo, a eleição seguiu o roteiro mais desejado. Com a oposição derrotada, agora Chávez está em condição vantajosa para tentar fazer seu sucessor caso tenha que renunciar.

Mas, se ele pagar o custo político de um ajuste cambial ou fiscal, a vantagem que abriu nessa eleição não deve se transferir ao seu candidato em eventual novo pleito.

CHRISTOPHER GARMAN é diretor especializado em América Latina e mercados emergentes na consultora Eurasia Group

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