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O sub de Chávez

Sem diploma universitário e com passado de motorista, Nicolás Maduro ganhou a confiança do presidente reeleito da Venezuela

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Na carroceria de um caminhão pequeno, Hugo Chávez saudava apoiadores em Sabaneta, sua cidade natal. Ao volante, de camisa vermelha e lenço no pescoço, estava o chanceler Nicolás Maduro.

A cena ocorreu na semana passada,na intensa reta final da campanha presidencial que deu a Chávez mais seis anos no poder no domingo.

Foi uma mostra de que Maduro, 49, desde anteontem o novo vice-presidente da Venezuela, não tem problemas em retomar seu antigo ofício de motorista de ônibus desde que seja para servir lealmente o presidente.

Ou um prelúdio do que pode ocorrer no futuro. Se Chávez, que se declara curado de um câncer cujos detalhes seguem obscuros, tiver de deixar o poder temporariamente, é ele quem conduzirá o governo por até seis meses.

Se a ausência definitiva ocorrer nos próximos quatro anos, é ele quem comandará o processo de novas eleições (em 30 dias).

RISO BURGUÊS

"Olha onde chegou Nicolás, de motorista de ônibus [a vice-presidente]. Nicolás era motorista do ônibus do Metrô e como a burguesia ri dele por isso", disse Chávez anteontem, ao nomeá-lo vice.

Espécie de "Lula da diplomacia", Maduro dirigia os ônibus da frota ligada ao metrô nos anos 1990. Chegou a presidente do sindicato da categoria.

O chanceler só terminou o ensino médio e jamais escapou das críticas de mal preparado e simplório mesmo que desde 2006 seja o titular de umas das pastas mais bem-sucedidas do governo, capaz de fazer da Venezuela um relevante ator geopolítico regional.

"Nicolás é um homem de ideias muito claras, de firme formação ideológica, inteligência muito rápida. Com grande capacidade de negociação, de escuta", disse o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilién Sánchez.

Segundo declarou ontem em Buenos Aires o chanceler brasileiro Antonio Patriota, "é um colega muito apreciado na região". "Parabenizamos Nicolás por essa promoção [a vice-presidente], e é uma garantia de que continuaremos a ter na Venezuela o mais alto nível de interlocutores", disse Patriota.

Não está claro ainda se o número 2 de Chávez acumulará as funções de vice-presidente e chanceler, mas o certo é que a nomeação consolida seu status de homem forte e confidente do presidente desde que, em 2011, o esquerdista revelou ter câncer.

Em junho de 2011, quando altos nomes do chavismo pareciam tão perdidos quanto o público em geral ao se referir a saúde de Chávez, foi Maduro quem disse primeiro que o presidente "batalhava por sua vida".

Durante o tratamento de Chávez em Cuba, o chanceler foi uma das mais frequentes companhias do presidente, a quem conhece desde o golpe fracassado de Chávez em 1992.

Foi na época em que o atual presidente estava preso pela intentona que Maduro conheceu sua mulher, Cília Flores, uma das advogadas de Chávez. Flores, depois de ter sido presidente da Assembleia Nacional como o próprio Maduro, é agora procuradora-geral da Venezuela, o que faz do casal um dos mais influentes do chavismo.

Os dois são tidos como seguidores do guru indiano Sai Baba, morto em 2011.

Apesar dos sinais de prestígio, os observadores mais experimentados do governo são cautelosos quando questionados se o novo vice presidente -o oitavo desde que Chávez chegou ao poder- seria sua aposta para uma eventual sucessão.

"A estratégia de Chávez sempre foi nunca fortalecer demais a ninguém, para que não se animem muito nem o ameacem. Ele gosta de movimentá-los, colocá-los em cargos mais baixos para pôr à prova sua lealdade", disse à Folha a socióloga Margarita López Maya.

Ela diz, porém, que Maduro tem mais "ativos políticos" que outros chavistas que gravitam em torno de Miraflores.

"Nenhum deles é especialmente preparado. Mas Maduro tem a confiança de Cuba, o que é importante", afirma a socióloga.

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