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Análise

Fim de restrição agrada a 'nova classe média' na ilha comunista

É um aceno à pequena, mas influente "nova classe média" cubana, os que recebem dinheiro do exterior

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

A grande maioria dos jovens cubanos nem sabe quem é Yoani Sánchez, a blogueira crítica do regime comunista de Cuba, mas provavelmente se alegrou mais que ela com o anúncio das mudanças na lei migratória ontem.

A irritação com a norma que faz do país uma espécie de ilha-cativeiro está presente no cotidiano, dos estudantes de elite alinhados ao governo aos que veem pela TV estatal e em versão pirateada a série "House", mas sabem quão difícil é conseguir visitar o país do protagonista.

Em outras palavras, com as mudanças, o ditador Raúl Castro produz uma notícia positiva na agenda doméstica, afetada pelo lento ritmo das reformas econômicas, sem necessariamente abrir mão do controle político dos "sensíveis", como Sánchez.

É um aceno também à pequena, mas cada vez mais influente "nova classe média" cubana -sim, a ilha comunista também a tem.

São os endinheirados, a maioria brancos, que recebem dinheiro dos parentes já no exterior. Ou os donos de novos negócios permitidos, como restaurantes.

Muitas vezes, os dois grupos são um só: os novos empreendedores são os que receberam remessas de fora. Eles, em tese, teriam dinheiro para pagar uma pequena viagem de férias, por exemplo, ou para comprar equipamentos para seus negócios e gostariam de não ter que enfrentar tanta burocracia.

É também um aceno à "diáspora sem ideologia", mais interessada em gastar dinheiro da aposentadoria espanhola ou americana em Cuba (ou ajudar um parente num empreendimento capitalista) do que conspirar para derrubar o comunismo castrista.

Por fim, é um recado aos EUA, que reclamam das lentas reformas em Cuba, mas podem ter que mudar as regras migratórias que oferecem à ilha. É possível imaginar o crescimento de cubanos pleiteando viagens ao México para tentar cruzar a fronteira e obter cidadania americana.

Como provocou o ativista John McAuliff no blog "Havana Note", "Cuba está dando mais liberdade a seus cidadãos para viajar aos EUA do que os EUA dá aos seus para viajar a Cuba". Para visitar a ilha, americanos têm de passar por terceiros países ou apresentar motivo "cultural".

Agora é esperar se haverá novidades no tema -após a eleição americana, claro.

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