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Análise Cuba

Ilha cria nova agenda para manter velha agenda

Reformas que flexibilizam direito de ir e vir dos cubanos são positivas, mas por enquanto têm caráter simbólico

JOSÉ LUIZ NIEMEYER DOS SANTOS FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

SE NÃO FOREM FEITAS NOVAS INCURSÕES NO CAMPO DAS POLÍTICAS DEMOCRATIZANTES, OS CUBANOS VÃO SENTIR QUE FORAM LUDIBRIADOS POR UMA INICIATIVA DE MARKETING

A nova diretriz oficial do governo de Cuba, facilitando viagens de cidadãos do país ao exterior e visitas dos cubanos que vivem no exílio, é uma novidade positiva.

Mas é fundamental entendermos o que a estratégia representa de fato.

A entrada e saída de cidadãos nacionais de um país aponta para algo fundamental dentro de qualquer modelo de democracia moderna, o direito de ir e vir.

Todavia, esta medida pode ter um efeito contrário se não vier a ser complementada por outras instruções governamentais que construam um real ambiente de maior liberdade e pluralidade na sociedade cubana.

Falo, dentre outras, de ações públicas em favor de maior liberdade de associação, de culto, de iniciativa privada e de expressão.

Em suma: é muito comum nos regimes de força que os governantes utilizem uma "nova agenda" para manter a "velha agenda".

Esta se constitui em uma "estratégia da dissimulação".

SIMBOLISMO

A prática geralmente é promovida pelos setores e agências de inteligência dos Estados autoritários que enquadram e subordinam a sociedade civil à agenda de manter o poder a todo custo.

E essa estratégia acontece principalmente quando a nova medida tem um caráter simbólico.

É o caso agora: uma ação de caráter eminentemente simbólico que envolve a imagem do governo cubano na sensível seara dos acordos de imigração e emigração.

Todavia, se não forem feitas novas incursões no campo das políticas públicas mais democratizantes no ambiente interno do país, tanto os próprios cubanos como a comunidade internacional vão sentir que foram ludibriados por uma iniciativa de marketing midiático.

Nada mais autoritário por parte de determinado regime político do que se utilizar de uma medida positiva -que traz no seu bojo a esperança genuína pela mudança-, para só e somente só manter procedimentos questionáveis. É o chamado anticlímax.

E processos de anticlímax em sociedades fechadas, como a cubana, trazem, na maior parte das vezes, mais insatisfação e protestos no ambiente doméstico, revertendo expectativas e aprofundando o dissenso no país.

JOSÉ LUIZ NIEMEYER DOS SANTOS FILHO é coordenador de Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais do Ibmec/RJ

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