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Análise

Ex-premiê se transforma num cadáver político aos 76 anos

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dificilmente Silvio Berlusconi cumprirá a sentença de um ano de prisão por sonegação de impostos. Seus advogados têm ainda duas instâncias judiciais para recorrer.

Mas é a primeira vez que o ex-premiê, objeto de 23 processos ou inquéritos policiais, chega tão perto da cadeia. Aos 76 anos, ele virou agora um cadáver político.

Ele representou por duas décadas a individualização da política italiana. Foi uma mudança importante: no pós-Guerra a política era feita por meio da impessoalização dos partidos, como o Comunista e a Democracia Cristã.

Claro que lideranças já eram fundamentais, mas elas atuavam sob um fundo de concepção coletiva, com congressos e programas, doutrinas e ideologias.

A inflexão representada pelo "cavaliere" correspondeu a uma nova visão que a Itália assumiu do empreendedor. Os maiores acionistas da Fiat não entravam nessa percepção, porque ela era vista como uma "instituição" tão nacional quanto a estatal de ferrovias, o catolicismo ou a malha rodoviária.

Com uma fortuna de hoje US$ 6,2 bilhões, Berlusconi era o "self-made man" por excelência. Ele se sairia bem nas políticas públicas porque cresceu excepcionalmente bem e rápido nos negócios.

E tinha como cereja no topo desse bolo o fato de ser o dono do Milan, o time de excelência do futebol italiano.

Foi por três vezes chefe de governo. Sobreviveu a 51 votos de confiança no Parlamento. Acusava os adversários, sobretudo o PSD (ex-Partido Comunista), de procurarem desestabilizá-lo, como se o embate fosse por mercado, e a disputa, comercial.

Ainda ontem disse ser vítima de "assédio judicial" ao se referir à encrenca final em que se meteu com o Fisco.

Para seus seguidores, Berlusconi era uma previsível vítima de procuradores esquerdistas, porta-vozes dos invejosos de seu sucesso.

Essa mistura entre o herói dos negócios e o herói da direita só foi possível porque a Itália se inseriu de modo perverso na lógica de mercado imposta pela União Europeia.

Sem líderes empresariais que fossem também lideranças nacionais, havia espaço de ascensão que o oportunista Berlusconi ocupou.

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