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sucessão chinesa

China enfrenta explosão de desigualdade

Pesquisa revela que os 10% dos domicílios mais ricos concentram 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país

Tema é preocupante para cúpula do país, que será renovada em congresso do Partido Comunista em novembro

Rooney Chen - 5.out.2012/Reuters
Homem escala ruínas de sua casa, demolida para construção de complexo residencial em Shanxi
Homem escala ruínas de sua casa, demolida para construção de complexo residencial em Shanxi

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

No aclamado romance "Irmãos", do escritor Yu Hua, dois meninos do interior da China sobrevivem unidos aos horrores da Revolução Cultural (1966-1976).

Os laços da infância, porém, se desfazem à medida que avança a abertura econômica: enquanto um fica bilionário a ponto de viajar ao espaço a turismo, o outro definha entre trabalhos temporários insalubres e mal pagos.

O épico, best-seller na China e já publicado no Brasil (ed. Companhia das Letras), ilustra um dos principais efeitos colaterais do crescimento anual médio de 9,9% nas últimas três décadas.

De uma sociedade quase homogênea e nivelada pela pobreza, até o início dos anos 1980, a uma desigualdade de renda que já está entre as piores da Ásia.

Deve ser um dos principais desafios para a nova liderança política chinesa, a ser definida no Congresso do Partido Comunista, que começa em 8 de novembro.

O coeficiente Gini, medida internacional para calcular disparidade de renda, estava em 0,47 em 2009, segundo o dado mais recente do Banco Mundial, que considera um índice maior do que 0,4 uma ameaça à estabilidade social.

Pelo cálculo Gini, zero representaria igualdade perfeita, enquanto 1 significaria que apenas uma pessoa controlaria a riqueza do país.

Um levantamento divulgado neste mês pela Pesquisa Financeira Domiciliar da China revela um panorama mais sombrio. Pela pesquisa, em que foram entrevistadas 8.438 famílias, os 10% dos domicílios chineses mais ricos têm 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país.

Trata-se de uma concentração alta em comparação até com o Brasil: segundo o Censo do IBGE de 2010, os 10% mais ricos ficaram com 44,5% do rendimento total do país.

O principal abismo chinês divide a área urbana da rural, onde ainda vive pouco menos de metade dos habitantes -680 milhões, ou quase 10% da população mundial.

A renda rural é, em média, cerca de um terço da urbana. A disparidade fica bastante evidente na posse de bens.

Enquanto 10,9% dos domicílios urbanos possuíam carro em 2009, essa taxa cai para mero 0,7% na área rural, segundo o Escritório Nacional de Estatísticas da China.

Distâncias significativas entre o mundo urbano e rural se repetem em outros bens, como computadores (65,7% versus 7,5%), máquinas de lavar (96% versus 53,1%) e geladeiras (95,3% versus 37,1%).

A desigualdade está entre as principais preocupações da opinião pública. É considerada "um problema muito grande" para 48%, ante 41% há quatro anos, segundo pesquisa do Pew Research Center. Fica atrás apenas de inflação (60%) e empata tecnicamente com corrupção (50%).

O problema recebe cada vez mais atenção do governo, que nos últimos dois anos vem promovendo aumentos dos salários mínimos regionais acima da inflação.

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