Governo não prioriza atacar desigualdade, afirma economista

Coordenador da Pesquisa Financeira Domiciliar da China, o economista Li Gan afirma que a desigualdade é provocada pelo avanço mais rápido entre os mais ricos e aponta a falta de meritocracia como um de seus motivos.

Professor da Universidade do Texas A&M, Li acredita que a falta de mobilidade social criará obstáculos para a China melhorar em áreas como inovação, um dos seus principais objetivos no curto prazo. Por outro lado, descarta um risco iminente de instabilidade social. Leia trechos da entrevista com ele.

(FM)

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Folha - Como está a desigualdade ante dez anos atrás?
Li Gan - De acordo com a informação do governo, e em comparação com os meus dados, a desigualdade está piorando. Mas não porque o pobre está ficando mais pobre. Os ricos estão mais ricos.
O atual governo tenta bastante ajudar os pobres da zona rural. Os camponeses se livraram de todos os impostos rurais e receberam subsídios substanciais. Isso nos primeiros cinco anos [do governo Hu Jintao], a partir de 2003.
Mas conversei com vários camponeses: apreciaram as mudanças, mas isso não é suficiente. E pessoas com negócios próprios estão indo especialmente bem, e isso ajuda a desigualdade a piorar.

O governo eleva salários e quer estender a rede de proteção social. Está funcionando?
Não acho que baste. Toda vez que há pacote de estímulos, é sempre com gastos em infraestrutura. [Desigualdade] não é prioridade. Sem ação ativa do governo, a China vai continuar ficando mais desigual. E isso é perigoso.

Qual é o perigo?
A desigualdade faz as pessoas se sentirem mal. Sentem que a mobilidade social está piorando. E, sem mobilidade social, a produtividade, a inovação, tudo isso cai gradualmente. Você não vê esperança, não trabalha duro.
Mas eu discordo da avaliação do Banco Mundial de que o Gini maior do que 0,6 pode desatar uma revolução. Não vejo como isso aconteceria.