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Análise

Crise é momento para repensar objetivo do euro e se é mesmo desejável salvá-lo

GIDEON RACHMAN
DO “FINANCIAL TIMES”

O navio da Europa está a caminho do naufrágio, e os homens encarregados de comandá-lo começam a ser lançados ao mar.
Embora políticos possam ser transitórios, os líderes europeus insistem que uma coisa se manterá eterna: o euro. Não passa uma conferência sem a repetição de que a Europa fará "o que for preciso" para preservar a moeda.
Mas o euro não representa um fim em si. A moeda é um instrumento cujo objetivo é promover a prosperidade e harmonia política da Europa.
À medida que crescem as indicações de que na verdade o oposto está ocorrendo, é hora de pensar não em como salvar o euro, mas em como liquidá-lo, ou em como permitir que os membros mais fracos o abandonem.
Por motivos de orgulho, medo, ideologia e sobrevivência pessoal, é extremamente difícil para os líderes europeus aceitar que o euro constitui larga porção do problema. Em lugar disso, preferem buscar outras explicações para a crise econômica.
Depois de cerca de uma década, estamos descobrindo que existem falhas inerentes em uma área de moeda unificada que une países diferentes, com níveis diferentes de desenvolvimento econômico e culturas políticas distintas.
O euro ajudou tanto a criar quanto a sustentar a crise europeia. Primeiro, fez com que as taxas de juros despencassem no sudoeste da Europa, o que encorajou países como Itália e Grécia a se endividarem exageradamente.
Agora, a moeda unificada torna inviáveis as opções que a Itália do pós-guerra e outros países tradicionalmente empregaram para enfrentar níveis excessivos de endividamento: inflação e desvalorização da moeda.
É verdade que pôr fim ao euro seria difícil e perigoso. As fugas de capital e calotes dos países que deixarão o euro poderiam causar quebra de bancos e consequente caos econômico e político.
Há quem argumente que a destruição da moeda única destruiria a União Europeia. Mas o risco é que essa se torne uma daquelas profecias tão alarmantes que proferi-la ajude a fazer dela realidade. Em lugar de insistir que abandonar o euro é impensável, os líderes europeus precisam se planejar para isso.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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