Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Greve aérea opõe Cristina a sindicatos

Movimento de controladores de voo simboliza relação mais distante da Casa Rosada com líderes trabalhistas na Argentina

Situação reflete perda da influência sindical na gestão kirchnerista; paralisação não afetou os voos para o Brasil

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A relação do governo argentino com os sindicatos passa por um momento delicado. Ontem, a presidente Cristina Kirchner pediu que eles "não boicotassem a Argentina".
A declaração veio depois de um fim de semana em que vários voos internacionais foram cancelados nos aeroportos de Ezeiza e Aeroparque devido a um desentendimento do governo com o sindicato dos controladores de voo. Nenhum afetou o Brasil.
Cristina transferiu as tarefas de controle aéreo do país para a Força Aérea, enquanto filas se acumulavam nos aeroportos. Ontem, a situação começou a se normalizar.
A situação é reveladora de como será o segundo mandato de Cristina, que começa no próximo mês com uma significativa mudança na base de seu movimento político: o sindicalismo, uma das marcas do peronismo, deixou de ser imprescindível para a sustentação de seu governo.
Reeleita com votação recorde, a mandatária conseguiu impor uma nova relação com os sindicatos.
Desprestigiado na Casa Rosada, Hugo Moyano, secretário-geral da CGT (Confederação Geral do Trabalho) e maior líder sindical do país, passou a ser questionado até por aliados do sindicato e viu diminuírem as chances de se transformar no "Lula argentino", como sonhava.
"Neste último ano, Cristina estabeleceu outras regras: há uma autonomia recíproca e uma nova lógica. Ela tem legitimidade para promover esse afastamento", disse à Folha Hugo Yasky, líder da Central dos Trabalhadores Argentinos, a segunda do país.
Moyano, também vice-presidente do Partido Justicialista, deve deixar o comando da CGT em breve. Seu mandato acaba no próximo ano, mas há pressão para que saia antes. O sindicalista nega.
Apesar da crispação, a CGT segue aliada do governo -é assim desde 2003, quando Néstor Kirchner foi eleito. Para conseguir respaldo político, o marido e antecessor de Cristina se tornou um dos principais aliados de Moyano, embora sempre o tenha visto como uma ameaça.
A CTA não conta com os mesmos benefícios da CGT, inclusive financeiros. Mesmo sem o reconhecimento oficial e lutando para ter um registro jurídico, a central, única a aceitar filiados do mercado informal, apoia o kirchnerismo -embora haja uma dissidência interna antigoverno.
"O governo tem políticas que são bandeiras históricas da central, por isso apoiamos. Mas temos a nossa independência", diz Yasky.

AMEAÇAS
Desde a morte de Néstor, em 2010, Cristina tem fomentado o crescimento do La Cámpora, grupo jovem criado por seu filho, Máximo, que se tornou um dos principais pilares do governo. Ao que tudo indica, terá mais protagonismo no segundo mandato.
As rusgas do governo com o sindicalismo já são públicas. Na formação das listas eleitorais, Cristina preteriu sindicalistas históricos em prol dos jovens integrantes do La Cámpora.
Agora, a família Moyano pressiona o governo pela redução de um imposto que afeta diretamente os caminhoneiros, categoria que há duas décadas é liderada pelos Moyanos.
Pablo e Facundo, filhos de Hugo, fizeram ameaças: se a categoria não for atendida, haverá piquetes e protestos.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.