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Análise

União Europeia tornou-se um palavrão para países do bloco

LUKE BAKER
DA REUTERS, EM BRUXELAS

Se há alguma coisa que causa discreto alarme na UE (União Europeia) hoje -para além da crise que já convulsiona os países que compartilham do euro- é o termo "mudança de tratado".
Talvez não seja uma expressão com a mesma carga dramática que "debandada nos mercados de dívida", mas a ideia de alterar as leis básicas da UE pode abalar profundamente o projeto de unificação concebido há 50 anos e agravar a crise das dívidas nacionais. O fiasco do processo de ratificação do Tratado de Lisboa, rejeitado pelos eleitores irlandeses em referendo realizado em 2008, na prática deixou em suspenso quaisquer avanços na integração europeia. Uma segunda consulta, em 2009, terminou convencendo o eleitorado irlandês e permitiu que o tratado entrasse em vigor.
Se conseguir a aprovação dos 27 países-membros ao tratado foi difícil da primeira vez, agora a dificuldade será ainda maior, já que para muitos desses países o termo "União Europeia" se tornou palavrão, e a crise econômica levaria muitos eleitores à extrema cautela.
O Reino Unido, que está determinado a não adotar o euro e mantém relacionamento cada vez mais distante com a UE, representa outro sério obstáculo.
Em um reflexo da preocupação sobre a posição britânica, Herman Van Rompuy, o presidente do Conselho Europeu, vai se reunir amanhã com o premiê britânico, David Cameron, em Bruxelas para discutir a questão.
Mas não são apenas os países que não adotaram o euro que representam obstáculos sérios; muitos dos países da zona do euro também temem que alterar os tratados em um momento no qual se enfrenta uma crise mais ampla seja o caminho errado.
A Finlândia, que defende a UE, declarou que não está interessada em mudar o tratado, ainda que essa hipótese não possa ser excluída, e a Holanda também expressou preocupações. Eslováquia, República Tcheca e Eslovênia também estão inquietas.
Angela Merkel, por sua vez, quer promover mudanças no tratado antes do final de 2012 -que incluem sanções severas contra os países que não cumpram suas metas de deficit orçamentário.
E a França insinua que ajustes mais profundos seriam necessários no tratado.
"Estou muito preocupado", disse um importante funcionário da UE envolvido nas negociações. "Começaremos por uma mudança do tratado e, antes que percebamos, estaremos debatendo a essência da Europa."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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