São Paulo, segunda-feira, 01 de janeiro de 2001

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ATAQUES

Assassinato de extremista judeu e de líder palestino faz crescer temor de atos de vingança e tornam acordo mais difícil

Atentados elevam tensão no Oriente Médio

Associated Press
Soldado israelense monta guarda perto do carro no qual um extremista judeu e sua mulher foram assassinados, na Cisjordânia


das agências internacionais

O assassinato do filho do rabino antiárabe Meir Kahane e de um importante líder do grupo palestino Fatah, ambos ocorridos ontem na Cisjordânia, elevaram o clima de confronto entre israelenses e palestinos e reduziram ainda mais as chances de sucesso de um acordo de paz no Oriente Médio proposto pelo presidente norte-americano, Bill Clinton.
O colono judeu Binyamin Kahane e sua mulher foram mortos numa emboscada de atiradores palestinos contra seu carro. Cinco de seus filhos ficaram feridos, um deles seriamente.
Seu pai, o rabino Meir Kahane, também foi assassinado, há dez anos, em Nova York, por um norte-americano de origem egípcia.
Meir Kahane fundou em 1971 o movimento extremista de inspiração racista antiárabe Kach. O grupo defende a criação de um Estado religioso na "Grande Israel" -área que compreende as fronteiras de Israel reconhecidas internacionalmente e os territórios palestinos ocupados pelo Estado israelense na guerra de 1967 contra seus vizinhos árabes-, além da expulsão dos árabes da região.
Binyamin Kahane, que tinha 30 e poucos anos, considerava-se herdeiro das idéias do pai e fundou uma dissidência do Kach, chamado Kahane Hai (Kahane Vive), após a morte de Meir Kahane. Ambos os grupos são considerados ilegais por Israel.
Não está claro se os atiradores palestinos escolheram o carro de Binyamin. O atentado, ocorrido ao norte de Ramallah, foi reivindicado pelo grupo "Mártires da Intifada de Al Aqsa", que disse ter atirado contra o carro de um colono judeu em trânsito.
Kahane morreu no local, e sua mulher num hospital de Jerusalém. Cinco dos filhos do casal, com idades entre dois meses e dez anos, ficaram feridos por balas ou quando o carro tombou e bateu.
Pouco depois, o palestino Thabet Thabet, 49, líder grupo Fatah, ao qual pertence o líder da Autoridade Palestina (AP), Iasser Arafat, foi morto quando saía de sua casa em Tulkarm, na Cisjordânia.
Segundo fontes palestinas, ele foi morto por cinco tiros disparados a cerca de 300 metros de distância por soldados israelenses. De acordo com a agência de notícias "France Presse", a rádio estatal israelense confirmou a informação. Segundo a AP, Israel já teria matado mais de 20 ativistas do grupo Fatah e de outras organizações nos últimos três meses.
"Esses crimes israelenses são a prova do terrorismo de Estado que Israel leva adiante", declarou à "France Presse" o secretário de Governo palestino, Ahmad Abdel Rahman.
"A Autoridade Palestina e o Fatah prometem ao mártir Thabet continuar com a Intifada (revolta palestina) até a derrota da política israelense de terrorismo militar."
Milhares de manifestantes protestaram em cidades palestinas, e o movimento extremista palestino Jihad Islâmica ameaçou vingar a morte de Thabet.
Anteontem, o Fatah defendeu uma escalada da resistência palestina contra a ocupação israelense nos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia.
O ministro palestino de Comunicações, Imad Faluji, declarou que matar colonos judeus é um "direito palestino" e urgiu os moradores de assentamentos a abandonar a "Palestina antes de sair em caixões".
"A presença de colônias (assentamentos judeus nos territórios ocupados palestinos) equivale a uma declaração de guerra contra nosso povo e nossa terra palestina. E por isso o povo palestino tem o direito de resistir", disse.
A morte do filho de Kahane e de sua mulher também podem levar a atos de vingança contra palestinos por parte de extremistas judeus.
"Não existe isso de oferecer a outra face no judaísmo... Judaísmo é vingança", afirmou Noam Federman, amigo de Binyamin Kahane e seguidor da idéias do pai dele.
"Quem disser que existe uma solução militar (para o conflito) está errado porque sempre haverá mais um árabe e mais um árabe para matar judeus. Se não houver mais árabes nesse país, não haverá mais ataques", disse.
O premiê israelense, Ehud Barak (Partido Trabalhista), que terá de vencer eleições antecipadas no mês que vem para continuar no poder, declarou: "Nenhuma violência contra civis israelenses irá destruir nossa força ou será recompensada, e os assassinos não escaparão sem punição".

Paz distante
A atual onda de violência em Israel e nos territórios ocupados começou há pouco mais de três meses e já matou cerca de 350 pessoas, em sua maioria palestinos.
Os atentados de ontem dificultam ainda mais a conclusão de um acordo de paz entre israelenses e palestinos antes do fim do mandato do presidente Clinton, no próximo dia 20.
Há cerca de uma semana, Clinton apresentou uma proposta de acordo para ambas as partes, mas ainda não recebeu respostas.



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