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"Século da Ásia" pode ter China sem Partido Comunista
JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma China sem o Partido Comunista, as Coréias unificadas e o
Japão lutando contra a queda de
sua influência no continente asiático, ao enfrentar desafios de vizinhos fortalecidos e as perenes dificuldades para recuperar sua
economia.
Isso é uma parte do cenário
mais provável, segundo diversas
análises e especulações, para o século 21, período também muitas
vezes apelidado de "o século da
Ásia" ou como "o século do Pacífico".
Não há previsão que roube dos
EUA a manutenção de sua hegemonia mundial, ao menos num
futuro previsível. No entanto há
uma insistente corrente de pensamento que aposta numa política
norte-americana mais voltada para o Pacífico, atraída pelos desafios e oportunidades apresentados pela Ásia, do que orientada
para os tradicionais vizinhos do
Atlântico, os europeus.
Embora muitas previsões tenham sido refeitas após a crise financeira asiática de 1997, o continente continua despontando como um dos principais e mais dinâmicos motores da economia
mundial.
A China deverá manter as taxas
aceleradas de crescimento registradas desde o início das reformas
pró-capitalismo, em 1978.
Os índices anuais de crescimento para os anos 2002, 2003 e 2004
deverão ser, respectivamente,
7,9%, 8,2% e 8,3%, de acordo com
cálculos da Economist Intelligence Unit, um braço de pesquisa da
prestigiosa revista britânica "The
Economist".
A CIA, o serviço de inteligência
norte-americano, também prevê
uma boa entrada de século para a
China, ao analisar o comportamento da economia mundial.
"A Ásia emergente será a região
de mais rápido crescimento, liderada pela China e pela Índia, cujas
economias já representam cerca
de um sexto do Produto Interno
Bruto global", afirma a CIA no
seu relatório "Tendências Globais
2015".
Continua o estudo: "Ao implementar as reformas exigidas para
sua adesão à Organização Mundial do Comércio, a economia
chinesa vai se tornar mais eficiente, permitindo a continuação do
crescimento acelerado".
Armadilha
A China, após mais de dez anos
de negociações, deve obter seu ingresso na OMC ainda em 2001.
Com a adesão, Pequim ganha ao
conseguir ampliar mercados para
suas exportações, mas deve, como
contrapartida, abrir ainda mais a
sua economia a investimentos e à
participação internacional. Ou seja, um novo choque de capitalismo e de influências externas, chegando com as empresas e o capital
estrangeiro.
Essa é a armadilha que aguarda
o Partido Comunista, criador da
alquimia de sistema político fechado com uma economia aberta.
Os herdeiros de Mao Tse-tung
calculam que hoje o país precise
de nova injeção de recursos para
manter as reformas econômicas
avançando.
Essas mudanças devem, em
prazo ainda impossível de ser definido, dar origem a uma classe
média e a outros grupos sociais
que terão crescentes reivindicações por democratização, desaguando numa mudança de sistema político.
Para os pessimistas, a transição
pode jogar a China num universo
de turbulência marcado, por
exemplo, por uma desintegração
territorial semelhante à ocorrida
com a União Soviética. No entanto as diferenças regionais chinesas
não são, com exceções, tão marcantes como eram no império soviético.
O cenário mais provável é, portanto, o do fortalecimento da China, embora seu poderio econômico e militar ainda não vá ser suficiente para tirar dos EUA a condição de poder hegemônico na cena
internacional. Entretanto Pequim
será o grande desafio geopolítico
que Washington enfrentará neste
século.
O Japão também vai sentir os
efeitos do fortalecimento do vizinho e rival histórico. Embora haja
análises que apostem num crescimento do nacionalismo japonês,
a tendência mais provável é a manutenção da aliança estratégica
entre Washington e Tóquio, os
dois interessados em conter o
avanço de Pequim.
Os EUA sabem também da importância de suas bases militares
em solo asiático e japonês, que
permitem a suas Forças Armadas
atuar com rapidez em áreas que
vão do Havaí à África do Sul. "Essa plataforma de projeção de poder é vital para a América manter
uma posição a partir da qual pode
reivindicar a liderança global",
opina o analista japonês Ogawa
Kazuhisa.
E manter tropas no Japão torna-se ainda mais importante para os
EUA diante da forte possibilidade
de haver a reunificação da península coreana na próxima década.
O regime comunista da Coréia do
Norte dá sinais de que já admite o
seu final, e a morte de um reduto
do stalinismo e da ameaça de invasão norte-coreana tiraria de
Washington o argumento para
manter os seus cerca de 35 mil soldados estacionados hoje na Coréia do Sul.
Os EUA também querem manter tropas na Ásia com medo de
um conflito armado entre China e
Taiwan. Pequim ameaça invadir a
chamada "ilha rebelde" para forçar a reunificação. Esse confronto, hoje pouco provável por conta
dos seus custos econômicos, traria turbulência e poderia conter a
atual espiral de crescimento das
economias do Extremo Oriente.
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