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Conflito político mata dezenas no Quênia
Opositores se insurgem contra resultado oficial da eleição; ONU e União Européia dizem haver indícios de fraude
Manifestantes e policiais se enfrentam; pelo menos 135 pessoas foram mortas no país, considerado um dos mais estáveis da região
DA REDAÇÃO
Conflitos entre policiais e
partidários do candidato oposicionista à Presidência, Raila
Odinga, deixaram ontem dezenas de mortos no Quênia, que
era considerado um dos países
mais estáveis da África Oriental. Os manifestantes, que não
aceitam a vitória apertada do
presidente Mwai Kibaki e alegam fraudes no pleito -acusação respaldada pela ONU e pela
União Européia-, tomaram as
ruas da capital armados com
pedras e paus, sendo reprimidos a bala por policiais. Agências internacionais contabilizam entre 135 e 185 mortos.
"Passadas as eleições, é agora
tempo de cicatrizar feridas e de
reconciliação entre os quenianos", disse Kibaki, em mensagem de Ano Novo transmitida
ontem em rede nacional, enquanto os conflitos tomavam o
país e o número de corpos espalhados pelas ruas aumentava. O
governo proibiu transmissões
ao vivo de televisão, mas afirmou que não pretende declarar
estado de emergência.
Casas e estabelecimentos comerciais dos kikuyus, grupo étnico ao qual pertence Kibaki e
no qual se concentram seus
eleitores, estão sendo depredados por manifestantes nos Províncias do oeste do país, segundo relatos da Cruz Vermelha.
Odinga é um luo e conta com
apoio quase irrestrito no seu
clã, concentrado na região ocidental do Quênia.
As conflitos marcam o fim de
um período de grande otimismo, iniciado com a vitória, em
2002, da Coalizão Nacional do
Arco-Íris, liderada por Kibaki.
A chamada "revolução de veludo", que pôs fim a 24 do governo de Daniel Arap Moi, foi um
marco da abertura política no
Quênia. O Kanu, partido ligado
a grupos independentistas, estava no poder desde o fim da
ocupação colonial, em 1963.
A base governista logo se esfacelaria em meio a disputas
pela divisão do poder. Sem deixar oficialmente o governo,
parte dos ex-aliados passou a
fazer oposição aberta a Kibaki,
sob a liderança de Odinga.
Em 2005, a derrota do governo no referendo de reforma
constitucional, que fortaleceria
o poder da Presidência, demonstrou a força dos opositores, reunidos no Movimento
Democrático Laranja -fruta
que representava o "não" nas
cédulas do referendo.
Foi a ruptura definitiva.
Oriundo do Kanu, partido único no Quênia até 1992, o presidente aliou-se então ao partido
que derrotara e demitiu os políticos da nova oposição que tinham cargos no governo.
A recuperação econômica do
Quênia -que saiu de anos de
recessão, alcançando um crescimento médio que beira os 6%
nos últimos quatro anos- contribuiu para a relativa estabilidade do país durante a ruptura.
O estabelecimento do ensino
primário universal é o outro
grande trunfo de Kibaki, que
promete estender a política ao
ensino secundário. Escândalos
de corrupção e acusações de favorecimento aos kikuyus, porém, minam sua credibilidade
entre muitos quenianos.
Fraude
O representante da ONU em
Nairóbi expressou ontem preocupação com "sérios problemas na contagem dos votos".
Em pelo menos um distrito
queniano, houve irregularidade comprovada, com o número
de votos excedendo em 15% o
total de eleitores, segundo a comissão eleitoral do país.
Observadores da União Européia dizem ter sido barrados
de centros de apuração de votos na Província Central, uma
das zonas onde o governo venceu. Alexander Lambsdorff,
chefe da delegação da UE, disse
à rede britânica BBC que os resultados anunciados pela comissão eleitoral em Nairóbi diferem dos divulgados localmente. Ele diz ter visto formulários adulterados de votação.
Ontem à tarde, os EUA -que
haviam parabenizado Kibaki
pela vitória- recuaram e manifestaram dúvidas sobre a lisura
do pleito. O país é aliado da Casa Branca no combate a radicais islâmicos na região.
Com agências internacionais
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