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França veta hoje fumo em bares e restaurantes
Tabagismo é uma antiga marca nacional, mas agora maioria da população apóia medida; pequenos estabelecimentos protestam
ANA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
São nove horas da manhã em
um dos vários cafés parisienses
da região da Ópera da Bastilha.
A vendedora Marianne Dubois
folheia o jornal, ao lado de outros clientes que conversam em
voz baixa, tomando café. A
francesa aproveita os minutos
que lhe restam antes de começar o trabalho para tomar um
cafezinho e acender um cigarro. "Provavelmente, o último
que vou fumar dentro num café
parisiense", lamenta.
A partir de hoje, os franceses
estarão proibidos de fumar em
todos os bares, restaurantes,
discotecas e cassinos do país. A
França se alinha assim a outros
países europeus, que vêm aplicando legislação restritivas ao
cigarro.
O governo disse que não haverá tolerância. A partir de hoje, o comerciante que desobedecer a nova lei será multado
em 135 e o cliente flagrado fumando terá que pagar 68. Se
as multas não forem pagas, os
valores podem chegar a 750
para os comerciantes e a 450
para o cliente.
O objetivo do governo é reduzir o número de mortes ligadas ao cigarro no país -66 mil
por ano- e proteger os fumantes passivos. "Cerca de 5.000
fumantes morrem por ano na
França vítimas de doenças causadas pela exposição ao cigarro", diz Bertrand Dautzemberg, do Escritório Francês de
Prevenção ao Tabagismo, associação de luta contra o fumo.
A França é reputada pelos
bares enfumaçados e a população que fuma muito. Mas pesquisas recentes indicam que a
maioria dos franceses é favorável à medida e pretende continuar a freqüentar os bares.
Os principais sindicatos de
profissionais ligados a restaurantes, turismo, discoteca e hotelaria também aprovam. "Não
podemos continuar submetendo pessoas que não fumam aos
riscos ligados ao tabaco. De todo jeito, o problema é provisório. Tenho certeza de que os fumantes são uma espécie em extinção", afirma Patrick Malvaes, do Sindicato Nacional das
Discotecas de Lugares de Lazer, que representa três quartos das discotecas francesas.
O maior impacto da proibição deve ocorrer, entretanto,
nos chamados bares-tabaco,
estabelecimentos de pequeno
porte que têm autorização para
a venda de cigarros. São cerca
de 18 mil credenciados no país.
Segundo um estudo da Confederação dos Revendedores
de Tabaco, a nova legislação
pode levar a uma redução de
30% do faturamento gerado
pela venda de produtos anexos,
como bebida e sanduíches.
Outro setor que será afetado
são os salões de chá e narguilé.
"O narguilé é o coração da nossa atividade. É como se o governo dissesse: agora vocês vão ao
cinema, mas não verão mais filmes. Só poderão comer pipoca", disse Badri Helou, da
União dos Profissionais de
Narguilé, que representa 200
dos 800 salões da França.
Sindicatos dos revendedores
de cigarro e o lobby da indústria do tabaco pressionavam o
governo para modificar a lei.
Os sindicatos queriam autorizar o fumo nos locais com menos de cem metros quadrados e
nos bares-tabaco de vilarejos
com até 1.500 habitantes.
Mas segundo a nova legislação, somente será permitido
fumar em fumodrómos especiais, equipados com dispositivos de extração de ar e portas
que se fecham automaticamente. Nenhum serviço é autorizado nos fumódromos e nenhum
empregado pode entrar no local até uma hora depois da saída do último fumante.
Desde fevereiro de 2007, os
franceses já não podiam mais
fumar em locais públicos como
escolas e empresas. Na Europa,
pelo menos 27 países já adotaram leis que proíbem total ou
parcialmente o cigarro em lugares públicos.
Algumas vozes ainda defendem o direito de fumar. O polêmico coréografo belga Jan Fabre estreou em Atenas, em novembro, sua nova produção "I
am a mistake", um manifesto
pró-tabaco. Ele disse condenar
"esta sociedade do controle,
uma espécie de ditadura do
bem-estar".
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