São Paulo, terça-feira, 01 de janeiro de 2008

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França veta hoje fumo em bares e restaurantes

Tabagismo é uma antiga marca nacional, mas agora maioria da população apóia medida; pequenos estabelecimentos protestam

ANA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

São nove horas da manhã em um dos vários cafés parisienses da região da Ópera da Bastilha. A vendedora Marianne Dubois folheia o jornal, ao lado de outros clientes que conversam em voz baixa, tomando café. A francesa aproveita os minutos que lhe restam antes de começar o trabalho para tomar um cafezinho e acender um cigarro. "Provavelmente, o último que vou fumar dentro num café parisiense", lamenta.
A partir de hoje, os franceses estarão proibidos de fumar em todos os bares, restaurantes, discotecas e cassinos do país. A França se alinha assim a outros países europeus, que vêm aplicando legislação restritivas ao cigarro.
O governo disse que não haverá tolerância. A partir de hoje, o comerciante que desobedecer a nova lei será multado em 135 e o cliente flagrado fumando terá que pagar 68. Se as multas não forem pagas, os valores podem chegar a 750 para os comerciantes e a 450 para o cliente.
O objetivo do governo é reduzir o número de mortes ligadas ao cigarro no país -66 mil por ano- e proteger os fumantes passivos. "Cerca de 5.000 fumantes morrem por ano na França vítimas de doenças causadas pela exposição ao cigarro", diz Bertrand Dautzemberg, do Escritório Francês de Prevenção ao Tabagismo, associação de luta contra o fumo.
A França é reputada pelos bares enfumaçados e a população que fuma muito. Mas pesquisas recentes indicam que a maioria dos franceses é favorável à medida e pretende continuar a freqüentar os bares.
Os principais sindicatos de profissionais ligados a restaurantes, turismo, discoteca e hotelaria também aprovam. "Não podemos continuar submetendo pessoas que não fumam aos riscos ligados ao tabaco. De todo jeito, o problema é provisório. Tenho certeza de que os fumantes são uma espécie em extinção", afirma Patrick Malvaes, do Sindicato Nacional das Discotecas de Lugares de Lazer, que representa três quartos das discotecas francesas.
O maior impacto da proibição deve ocorrer, entretanto, nos chamados bares-tabaco, estabelecimentos de pequeno porte que têm autorização para a venda de cigarros. São cerca de 18 mil credenciados no país.
Segundo um estudo da Confederação dos Revendedores de Tabaco, a nova legislação pode levar a uma redução de 30% do faturamento gerado pela venda de produtos anexos, como bebida e sanduíches.
Outro setor que será afetado são os salões de chá e narguilé. "O narguilé é o coração da nossa atividade. É como se o governo dissesse: agora vocês vão ao cinema, mas não verão mais filmes. Só poderão comer pipoca", disse Badri Helou, da União dos Profissionais de Narguilé, que representa 200 dos 800 salões da França.
Sindicatos dos revendedores de cigarro e o lobby da indústria do tabaco pressionavam o governo para modificar a lei. Os sindicatos queriam autorizar o fumo nos locais com menos de cem metros quadrados e nos bares-tabaco de vilarejos com até 1.500 habitantes.
Mas segundo a nova legislação, somente será permitido fumar em fumodrómos especiais, equipados com dispositivos de extração de ar e portas que se fecham automaticamente. Nenhum serviço é autorizado nos fumódromos e nenhum empregado pode entrar no local até uma hora depois da saída do último fumante.
Desde fevereiro de 2007, os franceses já não podiam mais fumar em locais públicos como escolas e empresas. Na Europa, pelo menos 27 países já adotaram leis que proíbem total ou parcialmente o cigarro em lugares públicos.
Algumas vozes ainda defendem o direito de fumar. O polêmico coréografo belga Jan Fabre estreou em Atenas, em novembro, sua nova produção "I am a mistake", um manifesto pró-tabaco. Ele disse condenar "esta sociedade do controle, uma espécie de ditadura do bem-estar".


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