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São Paulo, sábado, 01 de março de 2003

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VENEZUELA

Texto do grupo, que se reúne no dia 10, pede que governo e oposição "moderem a retórica e evitem recriminações mútuas"

"Amigos" repreendem Chávez e oposição

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Grupo de Amigos da Venezuela deu um diplomático puxão de orelha no presidente Hugo Chávez e na oposição ao governo venezuelano por meio de um comunicado divulgado ontem.
O texto pede que governo e oposição "moderem a retórica e evitem recriminações mútuas". O documento não cita Chávez nem os líderes da oposição nominalmente, mas é uma demonstração de preocupação com os últimos acontecimentos naquele país. Por exemplo, a prisão do líder empresarial Carlos Fernández, um dos principais líderes da oposição.
Na semana passada, por iniciativa de Chávez, ele e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tiveram uma conversa telefônica. Segundo o Itamaraty, essa conversa se limitou a possíveis acordos de cooperação entre os dois países. No dia 10 de março, o Grupo de Amigos tem reunião marcada em Brasília para tentar discutir possíveis maneiras de solucionar o conflito venezuelano.
A motivação final para o comunicado foram os atentados ocorridos nesta semana em Caracas: "O Grupo de Amigos manifesta total repúdio aos atentados contra representações oficiais da Colômbia e da Espanha ocorridos em Caracas, em 25 de fevereiro". Ninguém sabe quem foi responsável pela ação. A oposição e o governo trocaram acusações mútuas.
O Grupo de Amigos, liderado pelo Brasil em parceria com México, Chile, EUA, Espanha e Portugal, teve o cuidado de redigir o comunicado sem fazer nenhuma acusação direta. O objetivo é aparentar a maior neutralidade possível para não criar constrangimentos para o próprio grupo em futuras negociações. O grupo foi criado para tentar mediar a crise entre o governo e a oposição, que chegou ao ponto mais crítico durante a greve geral de 63 dias, suspensa no início de fevereiro.
Embora todo o texto faça sempre referência à oposição e ao governo, foram os recentes episódios protagonizados por Chávez que mais preocuparam os membros do grupo. "O grupo preocupa-se com a ocorrência de quaisquer fatos ou atitudes que possam ter influência negativa no processo de criação de confiança entre o governo venezuelano e a oposição", diz o documento. As atitudes recentes que atrapalharam a atuação do Grupo de Amigos e dificultaram o diálogo foram protagonizadas por Chávez.
Após o encerramento parcial da greve geral organizada pela oposição, o presidente saiu cantando vitória. Seria melhor que tratasse o assunto como um acordo com os opositores, disseram diplomatas brasileiros.
Na semana passada, Chávez também comemorou a prisão de Carlos Fernández, um dos líderes da greve. A prisão foi decretada pela Justiça, mas foi interpretada como um ato de cunho político.
A prisão de Fernández aconteceu menos de 24 horas depois de um acordo assinado entre Chávez e a oposição, no qual os dois lados se comprometiam a buscar uma solução pacífica para o conflito.
No comunicado de ontem, o Grupo de Amigos afirma que é preciso manter "vigilância para que prevaleça a moderação", nos termos acordados na Declaração contra a Violência, pela Paz e a Democracia na Venezuela".


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