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População elogia força, mas pede fim da miséria
DO ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
A favela Bois Neuf, na Cité
Soleil de vielas miseráveis, valas negras e mau cheiro constante, acompanhou calma e
sem surpresa a presença das
tropas de paz. Alguns reclamavam do atraso que causava ao
trabalho ou à escola. A maioria
ouvida pela Folha, porém, defendia a atuação da ONU.
"Gosto muito da missão, pois
traz a paz, sem a qual não podemos viver. Mas o governo tem
de fornecer também segurança, educação e saúde, porque é
muita miséria aqui", disse Ricot Magene, 25, que trabalha
em um colégio.
"Fale com eles que temos
que ir à escola. Somos estudantes, não bandidos", reclamou
um rapaz de uniforme que não
quis se identificar. Ele estava
na fila para a identificação de
eventuais criminosos por informantes das forças de paz.
Para o jornalista haitiano
Daniel St. Helaine, da Rádio
Tropical, da capital, a população está "contente" com a presença da Minustah, pois reduz
o crime nos locais que controla.
A maioria dos sorrisos para
os brasileiros era de crianças e
mulheres. Os homens ficavam
mais reservados, observando
os militares à distância.
Há quem tema represálias
dos criminosos, embora a Folha tenha presenciado um morador se oferecer para colaborar com a Minustah.
Nervosa e chorando, uma
mulher abordou o comandante
do batalhão do Brasil, coronel
Barroso Magno, pedindo por
seu marido, preso pelas tropas.
Temia que fosse entregue à Polícia Nacional Haitiana, acusada por organizações internacionais de desrespeitar os direitos humanos.
Com quase todas as casas de
mais de um andar destruídas
pelas gangues para impedir a
eventual utilização pela Minustah como pontos de apoio, as
poucas ruas asfaltadas e as
muitas de terra lembram uma
favela brasileira.
As crianças sorriam para militares brasileiros. Meninos e
meninas descalços passavam a
mão na barriga para pedir comida. "Grangou, grangou [fome, fome]", diziam, em créole.
A única casa nova em Bois
Neuf é a do líder rebelde Belony. Pintada recentemente na
cor telha, com portas novas e
muros de pedra nos fundos,
tem uma boate contígua, com o
nome "A Nova Geração".
Um portal com pinturas do
líder rebelde Dread Wilman
-morto pela Minustah- ao lado de Che Guevara e o texto
"Herói do 21º século" adornam
a avenida principal da favela,
pavimentada e ampla. Fuzileiros navais, com uma picareta,
tiraram o pôster de Belony.
(RG)
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