São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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População elogia força, mas pede fim da miséria

DO ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

A favela Bois Neuf, na Cité Soleil de vielas miseráveis, valas negras e mau cheiro constante, acompanhou calma e sem surpresa a presença das tropas de paz. Alguns reclamavam do atraso que causava ao trabalho ou à escola. A maioria ouvida pela Folha, porém, defendia a atuação da ONU.
"Gosto muito da missão, pois traz a paz, sem a qual não podemos viver. Mas o governo tem de fornecer também segurança, educação e saúde, porque é muita miséria aqui", disse Ricot Magene, 25, que trabalha em um colégio.
"Fale com eles que temos que ir à escola. Somos estudantes, não bandidos", reclamou um rapaz de uniforme que não quis se identificar. Ele estava na fila para a identificação de eventuais criminosos por informantes das forças de paz.
Para o jornalista haitiano Daniel St. Helaine, da Rádio Tropical, da capital, a população está "contente" com a presença da Minustah, pois reduz o crime nos locais que controla.
A maioria dos sorrisos para os brasileiros era de crianças e mulheres. Os homens ficavam mais reservados, observando os militares à distância.
Há quem tema represálias dos criminosos, embora a Folha tenha presenciado um morador se oferecer para colaborar com a Minustah.
Nervosa e chorando, uma mulher abordou o comandante do batalhão do Brasil, coronel Barroso Magno, pedindo por seu marido, preso pelas tropas. Temia que fosse entregue à Polícia Nacional Haitiana, acusada por organizações internacionais de desrespeitar os direitos humanos.
Com quase todas as casas de mais de um andar destruídas pelas gangues para impedir a eventual utilização pela Minustah como pontos de apoio, as poucas ruas asfaltadas e as muitas de terra lembram uma favela brasileira.
As crianças sorriam para militares brasileiros. Meninos e meninas descalços passavam a mão na barriga para pedir comida. "Grangou, grangou [fome, fome]", diziam, em créole.
A única casa nova em Bois Neuf é a do líder rebelde Belony. Pintada recentemente na cor telha, com portas novas e muros de pedra nos fundos, tem uma boate contígua, com o nome "A Nova Geração".
Um portal com pinturas do líder rebelde Dread Wilman -morto pela Minustah- ao lado de Che Guevara e o texto "Herói do 21º século" adornam a avenida principal da favela, pavimentada e ampla. Fuzileiros navais, com uma picareta, tiraram o pôster de Belony. (RG)


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