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Desenhistas traçam show da política na França
Presidenciáveis são examinados sob a lente do humor crítico da charge política
A três semanas da eleição, cartunista e quadrinista comentam uma França que, entre um e outro candidato, tem preferido o espetáculo
ALEXANDRE WERNECK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
O cenário político francês vive um momento singular. Não
só porque as eleições do próximo dia 22 podem levar ao poder a primeira presidente mulher da história da França, a socialista Ségolène Royal. E nem
tanto por ela estar disputando
em pé de igualdade com o ex-ministro do Interior e candidato de direita Nicolas Sarkozy.
E nem ainda pelo fenômeno
François Bayrou, mais ao centro. Mas também porque, com
o fim das eras François Miterrand (morto em 1996) e Jacques Chirac e a busca por novos
ícones políticos, a França parece ter feito uma opção curiosa:
entre um e outro candidato, o
francês tem preferido o espetáculo, a transformação de seus
políticos em personagens.
Não passa uma semana sem
que saia uma capa de revista sobre a juventude de Sarkozy ou a
família de Ségolène.
Para os cartunistas, que se
esforçam para criticar a política
transformando em traços as
idiossincrasias dos políticos,
como todo esse teatro pode fazer algum sentido?
Veja, por exemplo, René Pétillon e Riss. O primeiro, 61
anos, publicou há pouco seu álbum "Ségolène" (Albin Michel,
13 euros na internet). O outro,
41, é o desenhista do livro "La
face karchée de Sarkozy"
(Vents d'Ouest/ Fayard, 14 euros, cujo título significa algo como "A face oculta e revelada de
Sarkozy"), do jornalista Philippe Cohen e do advogado Richard Malka, lançado em 2006.
Convidados pela Folha para
uma conversa conjunta, os dois
concordam que a política, que
sempre foi alvo do humor dos
cartunistas, vem assumindo
um outro desenho. E não são
eles que o vêm traçando.
"Desde a época de Miterrand
os franceses se interessam pela
vida privada de seus políticos.
O que é novo é que agora isso
começa nos próprios candidatos. Ségolène deixou fazerem
matéria sobre os filhos dela e
Sarkozy se deixou fotografar
com a mulher em casa. Há uma
politização da vida privada
mesmo", diz Pétillon, criador
do famoso e enrolado detetive
Jack Palmer.
"Ségolène" traz charges envolvendo os principais personagens políticos franceses, Ségolène entre eles. É um livro de
piadas curtas, das que poderiam estar ao lado do editorial
em jornais brasileiros.
Riss, ou Laurent Sourisseau,
refere-se a seu personagem por
seu apelido, "Sarkô": "É um
personagem que se dedica sobretudo a esse jogo de encenação na mídia e essa marca é
muito gritante na política
atual", diz ele, repórter e desenhista ligado ao semanário satírico "Charlie-Hebdo", no qual
se especializou em fazer coberturas jornalísticas em quadrinhos, entre elas a do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
No livro dele, Sarkozy aparece quase como um brinquedo
do artista. O pequeno Sarkô parece uma miniatura do adulto
com os mais variados interlocutores, sempre ironizando um
de seus bordões, "Eu os esmagarei a todos".
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