São Paulo, domingo, 01 de abril de 2007

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Desenhistas traçam show da política na França

Presidenciáveis são examinados sob a lente do humor crítico da charge política

A três semanas da eleição, cartunista e quadrinista comentam uma França que, entre um e outro candidato, tem preferido o espetáculo

ALEXANDRE WERNECK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS

O cenário político francês vive um momento singular. Não só porque as eleições do próximo dia 22 podem levar ao poder a primeira presidente mulher da história da França, a socialista Ségolène Royal. E nem tanto por ela estar disputando em pé de igualdade com o ex-ministro do Interior e candidato de direita Nicolas Sarkozy.
E nem ainda pelo fenômeno François Bayrou, mais ao centro. Mas também porque, com o fim das eras François Miterrand (morto em 1996) e Jacques Chirac e a busca por novos ícones políticos, a França parece ter feito uma opção curiosa: entre um e outro candidato, o francês tem preferido o espetáculo, a transformação de seus políticos em personagens.
Não passa uma semana sem que saia uma capa de revista sobre a juventude de Sarkozy ou a família de Ségolène.
Para os cartunistas, que se esforçam para criticar a política transformando em traços as idiossincrasias dos políticos, como todo esse teatro pode fazer algum sentido?
Veja, por exemplo, René Pétillon e Riss. O primeiro, 61 anos, publicou há pouco seu álbum "Ségolène" (Albin Michel, 13 euros na internet). O outro, 41, é o desenhista do livro "La face karchée de Sarkozy" (Vents d'Ouest/ Fayard, 14 euros, cujo título significa algo como "A face oculta e revelada de Sarkozy"), do jornalista Philippe Cohen e do advogado Richard Malka, lançado em 2006.
Convidados pela Folha para uma conversa conjunta, os dois concordam que a política, que sempre foi alvo do humor dos cartunistas, vem assumindo um outro desenho. E não são eles que o vêm traçando.
"Desde a época de Miterrand os franceses se interessam pela vida privada de seus políticos. O que é novo é que agora isso começa nos próprios candidatos. Ségolène deixou fazerem matéria sobre os filhos dela e Sarkozy se deixou fotografar com a mulher em casa. Há uma politização da vida privada mesmo", diz Pétillon, criador do famoso e enrolado detetive Jack Palmer.
"Ségolène" traz charges envolvendo os principais personagens políticos franceses, Ségolène entre eles. É um livro de piadas curtas, das que poderiam estar ao lado do editorial em jornais brasileiros.
Riss, ou Laurent Sourisseau, refere-se a seu personagem por seu apelido, "Sarkô": "É um personagem que se dedica sobretudo a esse jogo de encenação na mídia e essa marca é muito gritante na política atual", diz ele, repórter e desenhista ligado ao semanário satírico "Charlie-Hebdo", no qual se especializou em fazer coberturas jornalísticas em quadrinhos, entre elas a do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
No livro dele, Sarkozy aparece quase como um brinquedo do artista. O pequeno Sarkô parece uma miniatura do adulto com os mais variados interlocutores, sempre ironizando um de seus bordões, "Eu os esmagarei a todos".


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