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Cuba elimina o "apartheid turístico"
Decisão de permitir aos cubanos o acesso a hotéis e serviços do turismo na ilha se segue a outras medidas liberalizantes
Veto era razão de queixas;
pagamento, entretanto,
terá que ser feito em "pesos
conversíveis", moeda
que vale mais que o dólar
Efe
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Hotel Nacional, um dos mais tradicionais de Havana |
DA REDAÇÃO
Cuba amanheceu ontem com
a notícia, espalhada no boca a
boca, de que uma das proibições mais impopulares do regime comunista da ilha -o veto
para que cubanos se hospedassem em hotéis e alugassem carros, o chamado "apartheid turístico"- havia caído.
Não houve anúncio nem publicação na imprensa estatal.
De madrugada, gerentes de
grandes redes estrangeiras que
operam em Cuba e no centro
histórico de Havana foram informados das novas regras, das
quais se falava há dias. Os funcionários do setor ainda esperavam uma reunião com o governo para saber detalhes.
Agora, pagando em pesos
conversíveis (moeda turística
equivalente a US$ 1,08), os cubanos poderão voltar a alugar
carros e se hospedar nos hotéis
cubanos -o setor, o principal
da economia cubana, se expandiu na década de 90 e gera mais
de US$ 2 bilhões, apesar de
queda de visitação recentemente.
"Vou começar a guardar dinheiro agora mesmo para ir a
Varadero no próximo verão",
disse Martín Díaz, 34, comemorando o fim da restrição que
vigorava desde 1993, no chamado Período Especial, quando da
grave crise pós-colapso da
União Soviética.
A justificativa oficial era dupla: havia pouca disponibilidade hoteleira e o país precisava
atrair divisas; por outro lado, o
governo não queria incentivar
a desigualdade no país.
A mudança de ontem faz parte de um pacote de medidas liberalizantes recentes do irmão
de Fidel, Raúl Castro, que assumiu em fevereiro prometendo
eliminar "o excesso de proibições" na vida da ilha.
A despeito dos argumentos
anteriores sobre desigualdade,
todas as medidas tem em comum o fato de beneficiarem
principalmente a parcela da
população --calculada em
60%- que tem acesso a alguma
quantidade de moeda turística
por conta do turismo ou do recebimento de remessas.
Hoje, lojas cubanas começarão a vender em pesos conversíveis computadores e DVDs,
além de bicicletas elétricas.
Na próximo dia 14, será a vez
da venda de celulares a cubanos, o que também era restrito
até sexta-feira passada. Cada linha custará 111 pesos conversíveis (US$ 119,88) -ou sete meses do salário médio de um cubano, equivalente a US$ 17.
O governo anunciou, na edição de ontem do jornal oficial
"Granma", que se venderá celulares também em pesos, que vale 24 vezes menos, mas já anunciou que o serviço "gradual e limitado" dependerá do caixa
obtido com a venda na moeda
mais forte e terá um cadastro
semelhante ao usado na lentíssima distribuição atual de linhas fixas.
Novos ricos e economia
Apesar de distante do cotidiano da maioria e sem nenhuma sinalização de abertura política, analistas concordam que
o pacote de Raúl, e em especial,
o fim do "apartheid turístico",
funciona como resposta às milhares de queixas apresentadas
pela população em debates
convocados pelo próprio irmão
de Fidel, no ano passado.
No mais famoso desses debates, que acabou circulando pela
internet em janeiro, universitários de Havana cobraram o fim
da moeda dupla e a liberdade
para viajar ao exterior -especula-se que essa poderia ser a
próxima mudança.
Um economista da ilha, que
não quis se identificar, vê na série de medidas uma tentativa
de fortalecer o peso: "O governo está reconhecendo que cerca de 15% da população mantém 90% dos pesos no banco. É uma tentativa de levar os "novos ricos" -de fazendeiros a
contrabandistas- a trocar seus
pesos por pesos conversíveis
para consumir, dessa forma reduzindo os pesos em circulação
e fortalecendo a moeda", disse
ele à agência Reuters.
Com agências internacionais
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