São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011 |
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Beatificação de João Paulo 2º busca revigorar a igreja Bento 16, sucessor do papa morto em 2005, comanda cerimônia de hoje em momento difícil para o Vaticano Em meio a escândalos e estagnação no número de fiéis, cúpula católica quer se valer do carisma do antigo pontífice IGOR GIELOW ENVIADO ESPECIAL A ROMA A transformação do polonês Karol Wojtyla em beato João Paulo 2º, a ser celebrada hoje em missa no Vaticano, ocorre num dos momentos mais graves da história da Igreja Católica. Uma sucessão de crises agudas, problemas crônicos e inapetência por liderança mundial debilitaram a gestão do sucessor de Wojtyla, Bento 16. "É o papado mais pobre em uns cem anos", disse à Folha o importante especialista em Vaticano Marco Politi, do jornal "Il Fatto Quotidiano". A começar pela mobilização dos jovens que gritaram "santo subito" ("santo já") quando o papa de 84 anos morreu após longo calvário público em 2005. Eles estarão de volta à praça de São Pedro hoje, mas não foram incorporados organicamente à igreja nesses anos. "Gosto do papa. Mas eu uso camisinha com meu namorado", resumiu a jovem francesa Sophie Didier, 19, que chegou sexta a Roma. Em um de seus desastres públicos, Bento 16 insinuou que preservativos seriam aceitáveis -mas apenas a prostitutas, ressalvando que as vê em miséria moral. Essa inflexibilidade doutrinária em valores comportamentais trai o melhor e pior do alemão Joseph Ratzinger, que era braço-direito de Wojtyla antes de virar papa. Mesmo críticos o veem como um rigoroso intelectual da teologia nos últimos séculos, que nega o "catolicismo de prateleira" tão conhecido dos brasileiros. Mas isso tem preço. Em 2009, visitou a África flagelada pela Aids e disse que camisinhas, melhor meio de prevenir a doença, agravavam o problema. Não foi um momento de compaixão. E há a sangria de fieis, cujo número se manteve estável de forma vegetativa nos últimos anos -há 1,15 bilhão de católicos, a maior denominação cristã do mundo. ATO DE GRATIDÃO Na Europa de Sophie, continente moldado pelo catolicismo e seus cismas, apenas um quarto da população se declara católica. Nos EUA, um terço de quem nasceu católico diz ter abandonado a fé. No Brasil, em 2010 havia 65% de católicos, contra 90% em 1990. Assim, alguns veem oportunismo. "O "santo subito" carregava o sentimento primitivo de aclamação imediata. Mas a imagem de João Paulo foi manipulada por gente de dentro e fora da igreja, por interesses políticos", diz o jesuíta Drew Christiansen, editor da revista católica "America". Outros, como o vaticanista Giancarlo Zizola e Politi, acham que é o menor problema. "É um ato de gratidão", diz o primeiro, no que completa o segundo: "O homem já era santo para os 3 milhões que ficaram horas em filas no velório". Bento 16 colecionou crises. Desagradou muçulmanos e judeus com discursos pouco ecumênicos. Readmitiu à igreja o polêmico bispo Richard Williamson, negador do Holocausto. Em 2010, viu surgir mais um megaescândalo de pedofilia de padres, na Bélgica. A rigor, Ratzinger poderia declarar Wojtyla santo sem a cura da freira Marie Simon-Pierre de Parkinson em 2006. Meticuloso, acelerou o processo, mas está respeitando a regra de um milagre para tornar o antecessor beato e outro, já em estudo, para santificá-lo. Texto Anterior: Na real - Barbara Gancia, em Londres: A realeza só resiste com mistério Próximo Texto: Depoimento: Freira francesa relata cura de Parkinson atribuída ao papa Índice | Comunicar Erros |
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