São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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NA REAL

BARBARA GANCIA, EM LONDRES barbara@uol.com.br

A realeza só resiste com mistério


Para a monarquia, os que leem lábios são uma praga terrível como o jornalismo sensacionalista britânico


QUE BOM saber que William trata Kate, digo, a duquesa Catherine, com delicadeza, que os dois são extremamente respeitosos um com o outro mesmo depois de tantos anos de namoro, que eles se amam e estavam genuinamente felizes no dia do casamento.
Interessante também conhecer certos aspectos da intimidade daquilo que ocorreu no grande dia, como verificar que, na saída da igreja, a rainha Elizabeth 2ª estava satisfeita com o transcorrer da cerimônia a ponto de comentar com o seu marido que tudo estava indo "divinamente bem".
Ou que Charles ache que William está ficando careca antes do tempo e que isso é hereditário na família Windsor; que Harry tenha dado uma senhora cantada na irmã da noiva ou ainda que, no interior da abadia de Westminster, o primeiro-ministro David Cameron tenha confessado ao seu vice, Nick Clegg, que precisou mandar alargar as calças do "morning suit" (espécie de fraque para ser usado de dia), porque engordou um bocado de uns tempos para cá.
Não dá para negar que é divertidíssimo olhar para um evento como o casamento do príncipe William e de Kate com lupa de especialista em leitura labial.
Saber exatamente o que cada membro da família real e seus convidados VIPs estavam dizendo nos dá um "insight" completamente diferente do acontecimento, torna as coisas bem mais interessantes e palpáveis.
Mas, do ponto de vista de quem cuida da imagem da realeza, os profissionais que sabem ler lábios são uma praga quase tão terrível quanto a erva daninha do jornalismo sensacionalista de tabloide.
A monarquia só resiste se houver mistério. Se a gente toma conhecimento de que Grace de Mônaco era uma lunática obcecada por torrar dinheiro se consultando diariamente com videntes, como é que poderemos continuar a imaginá-la sorridente à beira-mar na Riviera Francesa?
Se soubermos que, ainda casada com Charles, a princesa Diana deu, ou, digamos, cedeu temporariamente algumas de suas partes mais preciosas para David Armstrong-Jones, o visconde Linley, primo-irmão de seu marido e filho da princesa Margaret, única irmã da rainha Elizabeth 2ª, como poderemos continuar a levar essa coisa de monarquia a sério?
Nem preciso começar a falar no episódio envolvendo um príncipe, um tampão e uma Catifunda, não é mesmo?
William e Catherine sabem que terão de viver na corda bamba. Realeza pressupõe um certo distanciamento, fantasia e mistério.
A partir do momento em que príncipes e princesas começam a dizer as mesmas coisas triviais e a ficar parecidos demais com a gente, a coisa toda perde a graça.


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