São Paulo, domingo, 01 de junho de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / PARTIDO DEMOCRATA

Votos de Flórida e Michigan valem metade, decide comitê

Primárias ocorreram antes de data permitida pelo partido; Hillary ameaça recorrer

Ontem, Obama decidiu se desligar de igreja de qual era fiel há 20 anos após mais uma polêmica envolvendo discurso de um religioso


DE WASHINGTON

Depois de nove horas de discussão e em meio a gritos de apoiadores de Hillary Clinton, o Comitê de Regras e Estatutos do Partido Democrata decidiu que os delegados da Flórida e de Michigan irão à convenção do partido, mas terão direito a apenas meio voto cada. Assim, segundo cálculos da CNN, Barack Obama contaria com 2.050 delegados e superdelegados, ante 1.877 da senadora.
O novo número mínimo para garantir a indicação do partido passa a ser 2.118, o que deixa o senador a 68 delegados da meta. Nas três prévias que faltam, Porto Rico (hoje), Dakota do Sul e Montana (terça-feira), estão em jogo 86 delegados. Além disso, há 190 superdelegados (membros do partido que votam livremente) que ainda não decidiram o voto. A maioria dos que decidiram nos últimos dias tem privilegiado Obama.
Flórida e Michigan haviam tido as prévias anuladas após anteciparem a votação sem autorização do partido, em janeiro. Hillary e Obama não fizeram campanha, e o senador não constava da cédula em Michigan. Ainda assim, 2,3 milhões foram às urnas, dando vitória à senadora, que defendia a validação do voto popular e dos delegados para justificar sua permanência na corrida eleitoral.
Hillary queria os delegados com o peso original. Com a decisão do comitê, sua campanha ameaçou levar o caso a outra instância do partido, que se reúne no final do mês, o que prolongaria a indecisão sobre quem será o candidato democrata na eleição em novembro.
A decisão foi recebida sob o coro de "Denver! Denver!", uma sugestão de que a luta pode continuar até a convenção do partido, em agosto, naquela cidade do Colorado. Era entoado por centenas de apoiadores de Hillary, que tomaram tanto o salão do hotel Marriott Wardman Park, palco da reunião, quanto arredores. Ali, mesmo sob a breve chuva vespertina, se reunia uma multidão formada principalmente por mulheres brancas de meia-idade.
Um delas traduzia em cartaz o espírito do eleitorado: "Conte meu voto ou não conte comigo". Em pesquisa nacional, um quarto dos eleitores de Hillary diz que não votará em Obama em novembro caso sua candidata não seja a escolhida do partido. No comando dos protestos ruidosos, mas pacíficos, estavam organizações feministas como a NOW (National Organization of Women).

Igreja abandonada
Ontem ainda, Barack Obama se desligou da Igreja da Trindade, de Chicago, que freqüentou por 20 anos, na qual foi batizado, batizou as duas filhas e celebrou seu casamento. No começo da noite, o senador se reuniu com jornalistas para explicar a decisão que, afirmou, "foi tomada com tristeza".
Segundo Obama, ficou claro que, "como candidato presidencial, terá imputados a ele quaisquer comentários" feitos no púlpito, "ainda que contradigam suas visões e valores".
A gota d'água, segundo o jornalista Roland Martin, comentarista político-religioso da CNN, teria sido novo sermão polêmico feito no púlpito da igreja, que vazou na internet na semana passada. Nele, o padre católico Michael Pfleger ironiza Hillary Clinton, ao fingir que era a senadora chorando e dizer que "um homem negro estava roubando o seu show".
O religioso branco, que já elogiou o líder radical negro Louis Farrakhan e foi preso algumas vezes, depois se desculpou e foi criticado por Obama, que disse que seus comentários "não refletiam o país" que ele via.
Com medo de que o caso crescesse e causasse o mesmo dano à imagem de Obama que os discursos polêmicos de seu ex-pastor na Trindade, Jeremiah Wright, causaram quando surgiram na rede, em março, ele decidiu se desligar completamente da igreja de Illinois, conhecida por defender a teologia da libertação negra.
Fundador da atual versão da Trindade, o hoje aposentado Wright foi o mentor religioso e um dos conselheiros políticos de Obama por duas décadas. Polêmico, acusou o governo dos EUA de promover terrorismo e criar o vírus da Aids para acabar com a população negra.


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