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Amorim defende "enterro burocrático" do caso Cuba
Para chanceler, OEA deve anular resolução contra ilha, que é "relíquia" da Guerra Fria
Brasileiro, que viaja hoje para assembleia do órgão, diz que isso não significa, no entanto, que Havana deve ser reintegrada de imediato
Edgar Romero/Associated Press
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Hillary Clinton em El Salvador; Amorim quer diálogo EUA-Cuba
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, embarca hoje para Honduras disposto a defender na Assembleia
Geral da Organização dos Estados Americanos, entre amanhã
e quarta, um "enterro o mais
burocrático possível" da resolução de 1962 que colocou Cuba
em quarentena na instituição.
"Seria muito ruim para o
continente voltar a julgar Cuba", diz o ministro, para explicar o teorema que leva para a
reunião de San Pedro Sula, assim elaborado:
1 - A resolução de 1962 é uma
relíquia da Guerra Fria, a tal
ponto que o documento em que
se baseou (Tratado do Rio de
Janeiro) obrigava os países
americanos a defender até a
Groenlândia em caso de ataque
da hoje extinta União Soviética.
A medida que determinou a
suspensão de Cuba não falava
em democracia. Dizia que o fato de a ilha ter se inclinado pelo
marxismo-leninismo era uma
ameaça ao continente.
Hoje, a ameaça não existe. O
exemplo mais usado pela diplomacia brasileira para demonstrar a tese é o Vietnã: os Estados Unidos perderam 55 mil vidas na luta contra o regime
marxista-leninista do país asiático. Não obstante, Washington
normalizou suas relações com
o Vietnã sem que este mudasse
o seu sistema político, a não ser
na economia.
2 - O que cabe, portanto, é
simplesmente enterrar a resolução. Se Cuba, a partir daí, vai
ou não reintegrar-se ao sistema
interamericano é "outra questão", diz o ministro, questão
que não cabe antecipar.
Amorim lembra que os dirigentes cubanos têm dito, reiteradamente, que não querem
voltar à OEA. Portanto, impor
agora condições para a volta da
ilha, como o respeito às regras
democráticas, como fazem os
Estados Unidos, passa a ser
uma "não questão".
Transição
A tese brasileira, que Amorim já expôs a vários dos interlocutores que encontrará em
San Pedro Sula, é a de que, em
seguida ao "enterro burocrático" da resolução, deve abrir-se
uma espécie de período de
transição. Nele, haveria espaço
para que Estados Unidos e Cuba tratassem bilateralmente de
seu contencioso, o que, para o
ministro, é "até mais importante do ponto de vista cubano".
Mas não são apenas os Estados Unidos o obstáculo para o
pretendido "enterro burocrático" da questão cubana. Líderes
como Hugo Chávez (Venezuela) e Daniel Ortega (Nicarágua)
agitam o tema do outro lado, ao
pretenderem uma plena reabilitação de Cuba desde já.
"Há muita paixão em torno
de algo que não deveria ser tratado passionalmente", constata
Amorim.
Por isso mesmo, ele embarca
hoje sem saber o que vai acontecer na assembleia geral, situação rara em reuniões do gênero, nas quais o essencial costuma ser sempre combinado
antes.
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