São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

Próximo Texto | Índice

Amorim defende "enterro burocrático" do caso Cuba

Para chanceler, OEA deve anular resolução contra ilha, que é "relíquia" da Guerra Fria

Brasileiro, que viaja hoje para assembleia do órgão, diz que isso não significa, no entanto, que Havana deve ser reintegrada de imediato

Edgar Romero/Associated Press
Hillary Clinton em El Salvador; Amorim quer diálogo EUA-Cuba

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, embarca hoje para Honduras disposto a defender na Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, entre amanhã e quarta, um "enterro o mais burocrático possível" da resolução de 1962 que colocou Cuba em quarentena na instituição.
"Seria muito ruim para o continente voltar a julgar Cuba", diz o ministro, para explicar o teorema que leva para a reunião de San Pedro Sula, assim elaborado:
1 - A resolução de 1962 é uma relíquia da Guerra Fria, a tal ponto que o documento em que se baseou (Tratado do Rio de Janeiro) obrigava os países americanos a defender até a Groenlândia em caso de ataque da hoje extinta União Soviética.
A medida que determinou a suspensão de Cuba não falava em democracia. Dizia que o fato de a ilha ter se inclinado pelo marxismo-leninismo era uma ameaça ao continente.
Hoje, a ameaça não existe. O exemplo mais usado pela diplomacia brasileira para demonstrar a tese é o Vietnã: os Estados Unidos perderam 55 mil vidas na luta contra o regime marxista-leninista do país asiático. Não obstante, Washington normalizou suas relações com o Vietnã sem que este mudasse o seu sistema político, a não ser na economia.
2 - O que cabe, portanto, é simplesmente enterrar a resolução. Se Cuba, a partir daí, vai ou não reintegrar-se ao sistema interamericano é "outra questão", diz o ministro, questão que não cabe antecipar.
Amorim lembra que os dirigentes cubanos têm dito, reiteradamente, que não querem voltar à OEA. Portanto, impor agora condições para a volta da ilha, como o respeito às regras democráticas, como fazem os Estados Unidos, passa a ser uma "não questão".

Transição
A tese brasileira, que Amorim já expôs a vários dos interlocutores que encontrará em San Pedro Sula, é a de que, em seguida ao "enterro burocrático" da resolução, deve abrir-se uma espécie de período de transição. Nele, haveria espaço para que Estados Unidos e Cuba tratassem bilateralmente de seu contencioso, o que, para o ministro, é "até mais importante do ponto de vista cubano".
Mas não são apenas os Estados Unidos o obstáculo para o pretendido "enterro burocrático" da questão cubana. Líderes como Hugo Chávez (Venezuela) e Daniel Ortega (Nicarágua) agitam o tema do outro lado, ao pretenderem uma plena reabilitação de Cuba desde já.
"Há muita paixão em torno de algo que não deveria ser tratado passionalmente", constata Amorim.
Por isso mesmo, ele embarca hoje sem saber o que vai acontecer na assembleia geral, situação rara em reuniões do gênero, nas quais o essencial costuma ser sempre combinado antes.


Próximo Texto: Cuba aceita falar com EUA sobre imigração
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.