São Paulo, segunda-feira, 01 de junho de 2009

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Cuba aceita falar com EUA sobre imigração

Hillary cita progresso na relação bilateral e reforça "nova abordagem" de Obama; convite ao diálogo, abandonado por Bush, foi da Casa Branca

Ilha propõe ainda conversas sobre serviços postais sem intermediários, cooperação em combate às drogas e resposta a desastres naturais

DA REDAÇÃO

Cuba aceitou a proposta dos EUA de reabrir as negociações bilaterais sobre imigração, confirmou ontem em El Salvador a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que se disse "muito satisfeita" com a decisão de Havana.
Hillary afirmou que o diálogo é parte de um esforço para "forjar um novo caminho em direção à Cuba". "O presidente Obama e eu estamos comprometidos com a nova abordagem. Acreditamos que houve mais progresso nesses quatro meses do que em alguns anos", disse, ressalvando que os EUA continuarão a pressionar a ilha quanto a direitos humanos e reformas democráticas.
O novo sinal de distensão entre os dois países ocorre às vésperas da Assembleia Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), entre amanhã e quarta-feira, em Honduras, da qual Hillary participará e onde a questão cubana estará no centro dos debates -diferentes países pressionam os EUA para que seja anulada a resolução que suspendeu a ilha do órgão, em 1962.
O chefe da Seção de Interesses de Havana em Washington, Jorge Bolaños, entregou no sábado um comunicado diplomático a funcionários do Departamento de Estado americano, dizendo que Cuba espera "reiniciar as conversas sobre imigração" (suspensas desde 2004) e, além disso, sobre serviços postais diretos entre os países, sobre cooperação em contraterrorismo e combate às drogas e sobre preparação e resposta a tragédias naturais.
Os dois países -que ensaiam formas de reaproximação desde a posse de Barack Obama nos EUA- ainda têm de decidir onde e quando ocorrerão as negociações sobre a imigração -tema crucial para ambos, considerando que milhares de cubanos migram anualmente para os EUA de forma ilegal.
Já a correspondência postal entre EUA e Cuba é feita há décadas pelo intermédio de outros países. Relatos apontam que as correspondências levam semanas para chegar ao destino e às vezes não chegam.

Histórico
As conversas bilaterais sobre imigração começaram no governo Bill Clinton (1993-2001), para evitar que milhares de cubanos se lançassem ao mar do Caribe na tentativa de chegar à Flórida, como ocorreu principalmente em 1980 e em 1994. Em 1995, um acordo estabeleceu que os EUA fariam a repatriação à ilha de cubanos interceptados no mar. Os EUA também concordaram então em oferecer ao menos 20 mil vistos a cubanos anualmente.
Durante o governo George W. Bush (2001-2009), essas negociações foram suspensas, como parte da política de isolamento da ilha e do endurecimento do embargo.
No governo Obama, os EUA já levantaram as restrições a viagens de cubanos-americanos e à transferência de dinheiro e outros produtos à ilha. O embargo econômico, que já dura 47 anos, permanece vigente.
Washington cobrou um "gesto de boa-fé" de Cuba -possivelmente a libertação de dissidentes presos-, que não veio, ainda que o dirigente da ilha, Raúl Castro, tenha se disposto a discutir "tudo" que não comprometa a "soberania" cubana.
Washington havia proposto há dez dias o diálogo sobre questões imigratórias. O tema, no entanto, causa suscetibilidades políticas. Representantes da Flórida no Congresso condenaram a iniciativa de Obama como "uma concessão unilateral à ditadura". Em contrapartida, a tradicional Fundação Nacional Cubano-Americana (FNCA), organização anti-castrista que agora defende o diálogo com o regime, aplaudiu a proposta.
Com agências internacionais




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