|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Em choques entre vontades de ferro, quem tem a força mata mais. Sempre
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Em choques entre duas
vontades de ferro, a maioria
das vítimas será, sempre, do
lado mais fraco.
É o que acontece na guerra
permanente entre o Hamas e
Israel: cada lado se mantém
absolutamente inamovível
em suas posições que, reduzidas a termo, significam aniquilar o outro. É óbvio que
não pode haver acordo.
É igualmente óbvio que o
lado mais fraco, o Hamas,
aporta a maioria das vítimas,
como ocorreu ontem no caso
do ataque de Israel à chamada frota da paz.
Como aconteceu na invasão da faixa de Gaza, há um
ano e meio.
No caso de ontem, os mortos e os feridos não eram propriamente do Hamas, mas
militantes de ONGs simpáticas ao movimento palestino.
Após cada episódio violento, vem a sequência tradicional de acusações e contra-acusações. Israel diz que os
ocupantes dos barcos eram
"terroristas", inclusive vinculados à Al Qaeda.
O primeiro-ministro turco,
Recep Tayyp Erdogan, acusa
Israel de "terrorismo de Estado" (a organização da frota
foi de uma ONG turca).
Israel, tanto na invasão de
Gaza como dos barcos, usou
força desproporcional, do
que dá prova a imensa diferença no número de vítimas
entre habitantes de Gaza e
soldados de Israel e entre militantes da frota e soldados
israelenses.
Ambos os lados cometeram crimes contra a humanidade, conforme o relatório
do juiz Richard Goldstone.
Além disso, o bloqueio da
faixa de Gaza não é só ao Hamas, o inimigo, mas uma punição coletiva aos habitantes
do território, o que é crime
pelas regras internacionais.
Mas Israel usa sua força
porque ela é superior à de
qualquer país árabe e também (ou principalmente)
porque sabe que a única consequência é uma condenação internacional cada vez
mais intensa, o que é mais
que compensado pela coesão
interna cada vez mais forte.
A maioria dos israelenses
abandonou de vez qualquer
tipo de preocupação com
seus vizinhos palestinos.
Quer mantê-los à distância
possível, seja com um muro
na Cisjordânia, seja isolando
Gaza por terra, mar e ar.
O Hamas, por sua vez, continua se recusando a reconhecer o Estado judaico.
São vontades férreas, inamovíveis. E tudo o que a comunidade internacional consegue fazer é produzir resoluções, declarações, reuniões.
Chega a ser risível, apesar
de bem-intencionada, a ideia
de um Oriente Médio livre de
armas nucleares, proposta
da semana passada.
Texto Anterior: Repercussão Próximo Texto: Em novo revés, Mockus vê derrotados negarem apoio Índice
|