São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2010

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ANÁLISE

Em choques entre vontades de ferro, quem tem a força mata mais. Sempre

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Em choques entre duas vontades de ferro, a maioria das vítimas será, sempre, do lado mais fraco.
É o que acontece na guerra permanente entre o Hamas e Israel: cada lado se mantém absolutamente inamovível em suas posições que, reduzidas a termo, significam aniquilar o outro. É óbvio que não pode haver acordo.
É igualmente óbvio que o lado mais fraco, o Hamas, aporta a maioria das vítimas, como ocorreu ontem no caso do ataque de Israel à chamada frota da paz.
Como aconteceu na invasão da faixa de Gaza, há um ano e meio.
No caso de ontem, os mortos e os feridos não eram propriamente do Hamas, mas militantes de ONGs simpáticas ao movimento palestino.
Após cada episódio violento, vem a sequência tradicional de acusações e contra-acusações. Israel diz que os ocupantes dos barcos eram "terroristas", inclusive vinculados à Al Qaeda.
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyp Erdogan, acusa Israel de "terrorismo de Estado" (a organização da frota foi de uma ONG turca).
Israel, tanto na invasão de Gaza como dos barcos, usou força desproporcional, do que dá prova a imensa diferença no número de vítimas entre habitantes de Gaza e soldados de Israel e entre militantes da frota e soldados israelenses.
Ambos os lados cometeram crimes contra a humanidade, conforme o relatório do juiz Richard Goldstone.
Além disso, o bloqueio da faixa de Gaza não é só ao Hamas, o inimigo, mas uma punição coletiva aos habitantes do território, o que é crime pelas regras internacionais.
Mas Israel usa sua força porque ela é superior à de qualquer país árabe e também (ou principalmente) porque sabe que a única consequência é uma condenação internacional cada vez mais intensa, o que é mais que compensado pela coesão interna cada vez mais forte.
A maioria dos israelenses abandonou de vez qualquer tipo de preocupação com seus vizinhos palestinos.
Quer mantê-los à distância possível, seja com um muro na Cisjordânia, seja isolando Gaza por terra, mar e ar.
O Hamas, por sua vez, continua se recusando a reconhecer o Estado judaico.
São vontades férreas, inamovíveis. E tudo o que a comunidade internacional consegue fazer é produzir resoluções, declarações, reuniões.
Chega a ser risível, apesar de bem-intencionada, a ideia de um Oriente Médio livre de armas nucleares, proposta da semana passada.


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