São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Premiê do Hamas diz que Israel tenta derrubar governo

Haniyeh afirma que soldado seqüestrado só será solto com o fim da ofensiva israelense, que foi condenada pela ONU

Embora em escala menor, Exército mantém pressão, atinge 30 alvos em 24 horas em Gaza e mata 2 palestinos em operação na Cisjordânia

Oleg Popov/Reuters
Palestinas choram durante o enterro de um terrorista do grupo Jihad Islâmico morto em Gaza


DA REDAÇÃO

O premiê palestino, Ismail Haniyeh, que pertence ao grupo terrorista Hamas, pediu o fim da ofensiva na faixa de Gaza e disse que a ação militar de Israel é uma tentativa de derrubar o seu governo.
Dirigindo-se aos palestinos pela primeira vez desde o início da operação desencadeada após o seqüestro de um soldado israelense, Haniyeh discursou em uma mesquita na Cidade de Gaza e declarou que o Hamas não será pressionado por ataques ou pela detenção de seus integrantes -64 pessoas ligadas ao grupo, inclusive ministros e parlamentares, foram presas por Israel entre a última quarta e a quinta-feira.
"Quando eles seqüestraram os ministros eles quiseram seqüestrar o lugar do governo, mas nós dizemos que nenhuma posição será seqüestrada, nenhum governo vai cair."
O primeiro-ministro ainda disse que a devolução do soldado Gilad Shalit, 19, estava condicionada ao fim da ofensiva.
Em uma iniciativa que pode atrapalhar os esforços de mediação, facções palestinas pediram em um comunicado que Israel liberte 1.000 prisioneiros "palestinos, árabes e muçulmanos" e ponha fim à operação, em troca da soltura de Shalit.
Já as Brigadas de Mártires de Al Aqsa -o braço armado do Fatah, partido de Abbas- anunciaram ter seqüestrado um segundo soldado israelense, identificado como Hoffmann Kfeir Samuel, 23, a quem ameaçam matar caso a ofensiva não seja interrompida, segundo a agência France Presse.
O Exército israelense diminuiu ontem a intensidade de seus ataques, mas em 24 horas atingiu mais de 30 alvos. Um míssil explodiu próximo a um carro e feriu membros do grupo terrorista Jihad Islâmico.
De acordo com o Exército de Israel, dois militantes palestinos foram mortos e outros dois foram presos durante uma operação em Nablus (Cisjordânia). Na noite anterior, os escritórios do Ministério do Interior e do Fatah, partido do presidente palestino, Mahmoud Abbas, haviam sido destruídos por ataques aéreos. A casa de Abbas e o gabinete de Haniyeh estão a menos de 1 km do ministério.
Israel também revogou os direitos de residência em Jerusalém de quatro integrantes de alto escalão do Hamas. Entre a cúpula do braço político da organização, incluindo Haniyeh, havia o temor de que seus membros pudessem ser mortos ou detidos por Israel.
O Conselho de Segurança da ONU fez uma reunião de emergência para discutir a situação no Oriente Médio e anunciou uma resolução que condena a ofensiva israelense e pede sua interrupção imediata.
A ONU declarou que a destruição da central elétrica na faixa de Gaza deixou a região à beira de uma crise humanitária -a maioria da população de 1,4 milhão de pessoas estava sem luz. A Cruz Vermelha disse que estava em negociações com Israel para liberar o envio de suprimentos para a população.

Sem sinais
Desde o desaparecimento de Shalit no último domingo, não surgiram informações exatas sobre seu paradeiro ou estado. Os Comitês de Resistência Popular -um dos grupos radicais envolvidos no seqüestro- divulgaram anteontem uma nota em que novamente condicionam a libertação do soldado à soltura de palestinos detidos em Israel, mas sem informar sobre Shalit.
Uma pesquisa feita entre a população israelense e divulgada pelo jornal "Yedioth Ahronoth" aponta que 53% é a favor de uma solução negociada para o seqüestro, e 43% declarou apoio à ofensiva militar. Sobre a libertação de presos palestinos em troca da libertação de Shalit, 58% disse ser favorável contra 35% que se opõe.
Milhares de pessoas protestaram nas ruas do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Turquia contra a ofensiva israelense. No Cairo os manifestantes pediram "jihad" (guerra santa) contra o Estado judeu.
O governo do país, que está ajudando nas negociações com as autoridades palestinas para a libertação do soldado israelense, pediu calma à população. "Líderes dos países árabes, comecem a guerra santa. Alá é o maior", clamava o líder religioso de uma das principais mesquitas da capital egípcia.
Os protestos se repetiram em Istambul, onde milhares de pessoas participaram de manifestações em que bandeiras de Israel foram queimadas, sob gritos de apoio ao Hamas. Usando um megafone, um dos líderes do protesto alertava Israel de que corria o risco de voltar os 70 milhões de muçulmanos da Turquia contra si.
"Se Deus quiser, toda a Turquia mostrará nos próximos dias que apóia a Palestina", gritava, ouvindo da multidão: "Insh'Allah (se Deus quiser)!".


Com agências internacionais


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