São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Confronto é teste interno para Peretz

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O novo ministro da Defesa de Israel, recém-empossado, enfrenta um duro teste -sobretudo internamente- diante de um quadro de guerra. Pela primeira na história do Estado judaico, um civil comanda as Forças Armadas, e é tarefa de seu ministério controlar os territórios palestinos ocupados.
Na divisão de cargos entre o Kadima e o Partido Trabalhista, as duas forças majoritárias nas urnas reunidas num governo de coalizão, a Defesa coube a Amir Peretz. Em sua única experiência militar, a de recruta de um regimento de pára-quedistas, ele foi ferido em treinamento em 1974.
Peretz tem origem sindical. Dirigiu a Hisdratut, a central operária israelense, antes de derrotar o veterano Shimon Peres na disputa da liderança trabalhista. Foi admirador do "Peace Now", o movimento pacifista de Israel. Como ministro, ele substituiu Shaul Mofaz, ex-integrante do Estado-Maior, considerado um linha-dura favorável ao assassinato de militantes palestinos. Com seu enorme bigode e jeito caipira, Peretz tem sido visto pela primeira vez em meio de generais.
"Evento com algum significado, isso mostra que Israel é menos militarista do que muitos pensam. E que as prioridades se deslocam da segurança para o social", disse Stuart Cohen, da Universidade de Bar Ilan. Experiência fascinante, "com potencial explosivo", segundo um comentarista israelense.
Na campanha eleitoral já se falava em deslocamento de prioridades. Foram muito citados relatórios do National Insurance Institute mostrando que Israel tem um novo inimigo, a pobreza.
Uma "nova geração" no comando do trabalhismo, com Peretz à frente, garantiria que o partido, com selo histórico de centro-esquerda e filiação à Internacional Socialista, voltaria às suas raízes de batalhar contra desigualdades. Como não se via há muito tempo em Israel, questões sociais e econômicas, e não só de segurança, pesaram no debate político.
O conservador "Jerusalem Post", o mais importante jornal de língua inglesa de Israel, procurou deixar claro que "somos hoje uma sociedade de livre mercado e ponto final". Já Peretz dizia que "é preciso acabar com os demônios étnicos, lidar com as desigualdades". Quase uma em cada cinco famílias de Israel vive abaixo da linha da pobreza. A média é de uma em cada três crianças.
"Sinal vermelho, está em perigo a sociedade israelense", desabafou um ministro diante das informações levantadas pelo National Insurance Institute. Nos anos 50 e 60, Israel foi um dos países mais igualitários entre os "ocidentais". Tornou-se um dos mais injustos a partir dos anos 80, quando a direita tirou o trabalhismo do poder.
Ele voltou com Peretz, em associação com o Kadima, de centro-direita, e um discurso dando mais ênfase ao social e não à segurança.
Alguém disse que os problemas de Israel são segurança, segurança e segurança. Não era a opinião do candidato Peretz. Não se sabe se é a do ministro da Defesa.


O jornalista Newton Carlos é analista de temas internacionais

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