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Confronto é teste interno para Peretz
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
O novo ministro da Defesa
de Israel, recém-empossado,
enfrenta um duro teste -sobretudo internamente-
diante de um quadro de
guerra. Pela primeira na história do Estado judaico, um
civil comanda as Forças Armadas, e é tarefa de seu ministério controlar os territórios palestinos ocupados.
Na divisão de cargos entre
o Kadima e o Partido Trabalhista, as duas forças majoritárias nas urnas reunidas
num governo de coalizão, a
Defesa coube a Amir Peretz.
Em sua única experiência
militar, a de recruta de um
regimento de pára-quedistas, ele foi ferido em treinamento em 1974.
Peretz tem origem sindical. Dirigiu a Hisdratut, a
central operária israelense,
antes de derrotar o veterano
Shimon Peres na disputa da
liderança trabalhista. Foi admirador do "Peace Now", o
movimento pacifista de Israel. Como ministro, ele
substituiu Shaul Mofaz, ex-integrante do Estado-Maior,
considerado um linha-dura
favorável ao assassinato de
militantes palestinos. Com
seu enorme bigode e jeito
caipira, Peretz tem sido visto
pela primeira vez em meio de
generais.
"Evento com algum significado, isso mostra que Israel
é menos militarista do que
muitos pensam. E que as
prioridades se deslocam da
segurança para o social", disse Stuart Cohen, da Universidade de Bar Ilan. Experiência fascinante, "com potencial explosivo", segundo um
comentarista israelense.
Na campanha eleitoral já
se falava em deslocamento
de prioridades. Foram muito
citados relatórios do National Insurance Institute mostrando que Israel tem um
novo inimigo, a pobreza.
Uma "nova geração" no comando do trabalhismo, com
Peretz à frente, garantiria
que o partido, com selo histórico de centro-esquerda e
filiação à Internacional Socialista, voltaria às suas raízes de batalhar contra desigualdades. Como não se via
há muito tempo em Israel,
questões sociais e econômicas, e não só de segurança,
pesaram no debate político.
O conservador "Jerusalem
Post", o mais importante jornal de língua inglesa de Israel, procurou deixar claro
que "somos hoje uma sociedade de livre mercado e ponto final". Já Peretz dizia que
"é preciso acabar com os demônios étnicos, lidar com as
desigualdades". Quase uma
em cada cinco famílias de Israel vive abaixo da linha da
pobreza. A média é de uma
em cada três crianças.
"Sinal vermelho, está em
perigo a sociedade israelense", desabafou um ministro
diante das informações levantadas pelo National Insurance Institute. Nos anos 50
e 60, Israel foi um dos países
mais igualitários entre os
"ocidentais". Tornou-se um
dos mais injustos a partir dos
anos 80, quando a direita tirou o trabalhismo do poder.
Ele voltou com Peretz, em
associação com o Kadima, de
centro-direita, e um discurso
dando mais ênfase ao social e
não à segurança.
Alguém disse que os problemas de Israel são segurança, segurança e segurança. Não era a opinião do candidato Peretz. Não se sabe se
é a do ministro da Defesa.
O jornalista Newton Carlos é analista de
temas internacionais
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