São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

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Golpistas exibem apoio popular na capital

Presidente interino Roberto Micheletti comanda ato "em defesa da Constituição" ao lado de chefe militar hondurenho

Governante faz ataques a Chávez, acusado de estar por trás da tentativa do presidente deposto Zelaya de reformar Constituição


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, reuniu ontem alguns milhares de simpatizantes e o alto comando militar no centro da capital hondurenha, numa tentativa de demonstrar que a deposição do ex-aliado Manuel Zelaya conta com apoio interno.
Diante de simpatizantes vestidos de branco, Micheletti voltou a atacar o presidente venezuelano, Hugo Chávez, acusado de estar por trás da iniciativa de Zelaya de promover uma consulta popular sobre uma Assembleia Constituinte, declarada ilegal pela Justiça e pelo Congresso e que, acusa a oposição, ocultava uma tentativa de permanecer no poder.
"Os esquerdistas queriam nos assustar, mas descobriram que aqui em Honduras existem homens e mulheres que defendem a Constituição e o respeito às leis", discursou Micheletti, que até domingo era o presidente do Congresso e pertence, como Zelaya, ao Partido Liberal (centro-direita).
Micheletti voltou a dizer que seu governo é de "transição" e que haverá eleições presidenciais em novembro, conforme já estava previsto.
Também discursou o chefe do Estado Maior das Forças Armadas de Honduras, general Romeo Vásquez, que na semana passada foi destituído por Zelaya ao se recusar a mobilizar os militares para a consulta sobre a Constituinte, que seria realizada no domingo.
"Apenas cumprimos com a Constituição", disse Vásquez, ao justificar a detenção e a expulsão de Zelaya do país.
A professora da rede pública Irma Mejía, 59, disse à Folha que soube da marcha pela televisão -os principais canais do país, contrários a Zelaya, fizeram propaganda em favor do ato. "Ele não respeitava as leis de Honduras", disse, ao justificar o seu apoio à deposição.
Outras instituições do Estado deram apoio a Micheletti, em demonstração de que Zelaya estava bastante isolado dentro da elite política do país.
O procurador-geral de Honduras, Luis Alberto Rubí, disse ontem que Zelaya será preso "imediatamente" caso cumpra a promessa de regressar ao país amanhã. Segundo ele, o presidente deposto é acusado de 18 crimes, entre os quais "traição à pátria" e "usurpação de funções", por ter insistido em realizar a votação no domingo.
Já o Congresso aprovou uma moção de apoio a Micheletti e começou a revisar a participação do país na Alba, bloco regional liderado por Chávez, que vem ameaçando intervir militarmente em Honduras.
Em número bem menor, manifestantes pró-Zelaya realizaram uma marcha numa avenida central de Honduras, sob permanente vigilância de um helicóptero militar. A maioria pertencia a sindicatos e ao Partido Unificação Democrática de Honduras (UD, esquerda).
"O golpe representa o medo da oligarquia a uma consulta popular", disse uma estudante que marchava com o rosto coberto. "Foi um atropelo."


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