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Briga interna explica golpe, afirma analista
DO ENVIADO A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
A deposição do presidente
Manuel Zelaya reflete mais
uma briga interna da elite hondurenha do que uma pressão
popular, na avaliação do cientista político norte-americano
Aaron Schneider, da Universidade Tulane (EUA). Especialista em América Central, ele concedeu a seguinte entrevista à
Folha, por telefone:
FOLHA - Por que Zelaya foi deposto?
AARON SCHNEIDER - Trata-se
principalmente de um desentendimento dentro da elite
hondurenha. Por isso, não é tão
impressionante que a maior
parte do país esteja calma, sem
grandes mobilizações pró ou
contra Zelaya. Infelizmente,
em Honduras a população apenas assiste atônita aos erros de
seus governos.
O golpe não representa um
grupo de ideias, de ideologias
nem das bases da sociedade civil. Isso é muito triste, porque o
povo hondurenho, o segundo
mais pobre da América Central,
vai sofrer com a crise. Essa briga interna debilita o Estado, a
legitimidade da democracia e
qualquer projeto que surja nos
próximos meses.
Os dois partidos que se alternam no poder, o Liberal e o Nacional, não se renovam, e a população perdeu seu interesse
pela política. A elite política
não representa nem oferece alternativas à população.
FOLHA - Zelaya de fato estava caminhando para a esquerda de modelo chavista, como acusam as forças que o depuseram?
SCHNEIDER - É difícil defini-lo.
Seu primeiro ato como presidente foi dar isenção fiscal para
os investidores nas ilhas caribenhas. Em seguida, ele autorizou patrões a pagar salários
abaixo do salário mínimo nas
áreas mais pobres do país. Isso
não é nada de esquerda. No ano
passado, ele fez algumas coisas
internacionalmente em direção à esquerda, como a entrada
na Alba e na Petrocaribe [blocos liderados pela Venezuela de
Hugo Chávez]. Mas internamente não estava fazendo nada
que seja progressista ou que se
assemelhe a um governo inspirado por Chávez.
Ele cresceu no Partido Liberal, da oligarquia do país, mas
ficou isolado na elite. Isso ocorre com todos os presidentes a
partir do terceiro, quarto ano,
quando o resto da elite começa
a escolher quem será o próximo
presidente. No momento em
que isso ocorreu, Zelaya procurou uma aliança maior com as
classes populares.
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