São Paulo, quarta-feira, 01 de julho de 2009

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Briga interna explica golpe, afirma analista

DO ENVIADO A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

A deposição do presidente Manuel Zelaya reflete mais uma briga interna da elite hondurenha do que uma pressão popular, na avaliação do cientista político norte-americano Aaron Schneider, da Universidade Tulane (EUA). Especialista em América Central, ele concedeu a seguinte entrevista à Folha, por telefone:

 

FOLHA - Por que Zelaya foi deposto?
AARON SCHNEIDER
- Trata-se principalmente de um desentendimento dentro da elite hondurenha. Por isso, não é tão impressionante que a maior parte do país esteja calma, sem grandes mobilizações pró ou contra Zelaya. Infelizmente, em Honduras a população apenas assiste atônita aos erros de seus governos. O golpe não representa um grupo de ideias, de ideologias nem das bases da sociedade civil. Isso é muito triste, porque o povo hondurenho, o segundo mais pobre da América Central, vai sofrer com a crise. Essa briga interna debilita o Estado, a legitimidade da democracia e qualquer projeto que surja nos próximos meses. Os dois partidos que se alternam no poder, o Liberal e o Nacional, não se renovam, e a população perdeu seu interesse pela política. A elite política não representa nem oferece alternativas à população.

FOLHA - Zelaya de fato estava caminhando para a esquerda de modelo chavista, como acusam as forças que o depuseram?
SCHNEIDER
- É difícil defini-lo. Seu primeiro ato como presidente foi dar isenção fiscal para os investidores nas ilhas caribenhas. Em seguida, ele autorizou patrões a pagar salários abaixo do salário mínimo nas áreas mais pobres do país. Isso não é nada de esquerda. No ano passado, ele fez algumas coisas internacionalmente em direção à esquerda, como a entrada na Alba e na Petrocaribe [blocos liderados pela Venezuela de Hugo Chávez]. Mas internamente não estava fazendo nada que seja progressista ou que se assemelhe a um governo inspirado por Chávez.
Ele cresceu no Partido Liberal, da oligarquia do país, mas ficou isolado na elite. Isso ocorre com todos os presidentes a partir do terceiro, quarto ano, quando o resto da elite começa a escolher quem será o próximo presidente. No momento em que isso ocorreu, Zelaya procurou uma aliança maior com as classes populares.


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