São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro está entre os feridos no ataque

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

Um brasileiro está entre os feridos do atentado de ontem no refeitório da Universidade Hebraica de Jerusalém. Ele estava dentro do local na hora de explosão e teria sido protegido por uma parede, que abafou o impacto.
Ele trabalha na faculdade, teve um ferimento leve em razão de estilhaços da bomba e foi levado ao hospital. Segundo a Folha apurou, ele passava bem e já descansava em casa na noite de ontem.
Seus amigos disseram que, traumatizado com o ocorrido, ele preferia não dar entrevistas nem ter o seu nome revelado.
O acaso também salvou ontem a paulistana Ruth Waitzberg, 22, formada em ciências políticas pela Universidade Hebraica e que trabalha como assistente de pesquisa no campus. Ela havia marcado um almoço com um amigo no horário do atentado, mas se atrasou. "Resolvi fazer fotocópias e estava indo para lá. Por sorte, resolvi ir ao banheiro no caminho, caso contrário teria chegado lá antes da explosão", contou ela, por telefone, de Jerusalém.
"Fiquei em pânico porque meu amigo devia estar me esperando lá. Mas ele também levou mais tempo do que esperava para chegar e escapou", acrescentou. "Eu estava um lance de escadas abaixo da lanchonete. Escutei uma bomba muito forte, um "boom" seguido de barulho de vidros quebrando e mesas caindo."
Segundo Ruth, que imigrou a Israel há quatro anos, essa foi a quinta vez que ela escuta o ruído de um atentado em Jerusalém. Ela mora no centro ocidental da cidade, próximo à rua Ben Yehuda, local de uma série de ações suicidas palestinas no passado.
"Houve dois atentados de sábado à noite que fizeram meu apartamento tremer", lembra ela. Cansada da violência da Intifada, ela está de mudança para a Espanha, onde deve passar um ano e "esperar a situação acalmar".
Outro estudante brasileiro, que não quis ter seu nome revelado, estudava na biblioteca da universidade, a cerca de dois minutos de caminhada do refeitório. "Escutei um barulho oco, como se estivesse explodido um balão em um lugar fechado. Saí logo em seguida. O clima ficou muito pesado, pessoas telefonando, ambulâncias chegando, um caos total."
Ex-estudante da Universidade de São Paulo, ele vive nas moradias estudantis da Universidade Hebraica. À Folha, destacou: "Em geral, se ignora o fato de que há uma vida civil aqui. Muitos pensam que Israel é um país só de soldados com metralhadoras. Mas há muita gente, muitos estudantes, como eu, que tentam levar vida normal e estão sendo afetados pelo que está acontecendo".
Vida normal não é exatamente o que a jornalista Juliana Portenoy, 23, tem tido na capital israelense. Ela fará mestrado em sociologia na Universidade Hebraica e começa hoje um curso de hebraico no prédio atingido. "Eu deveria estar lá hoje (ontem), era dia de matrícula, mas a minha carta de inscrição na faculdade atrasou e acabei não indo. Mas a vida continua. Amanhã tenho aula, e estarei lá todos os dias."
Desde que se mudou de São Paulo a Jerusalém, no início do ano, ela evita comer fora ou andar de ônibus. Acostumou-se a fazer longas caminhadas para driblar os frequentes ataques suicidas contra os meios de transporte.
Assim como outros brasileiros no país, ela tem de lidar também com a apreensão dos familiares. "Quando sei que houve um atentado em Jerusalém, telefono para os meus pais no Brasil antes mesmo que eles saibam, para que não fiquem preocupados", contou.
Juliana trabalha numa ONG que promove o diálogo entre palestinos e israelenses. Segundo ela, cada novo ataque reforça o preconceito e o ódio. "Após o atentado na universidade, peguei um táxi e a primeira coisa que o motorista [judeu] falou foi: "Isso é o que dá deixar os árabes estudarem em nossas escolas"."



Texto Anterior: Oriente Médio: Terror mata 7 em universidade de Jerusalém
Próximo Texto: Campus tem ambiente tolerante
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.