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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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CRISE

Chanceler francês telefona para colega brasileiro, mas nota da Chancelaria francesa desagrada ao governo do Brasil

Paris desculpa-se de uso de território do Brasil

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O chanceler francês, Dominique de Villepin, telefonou ontem para o ministro Celso Amorim (Itamaraty) para pedir desculpas pelo uso do território brasileiro por um avião militar francês. Depois, divulgou nota oficial que, inicialmente, desagradou ao governo brasileiro, mas acabou sendo aceita para encerrar o incidente diplomático.
A nota da Chancelaria da França classifica o vôo de "missão médica" -versão que o Brasil não aceita- e diz que Villepin estava "arrependido" de não ter avisado antecipadamente, como deveria, o seu colega Amorim.
O Itamaraty inicialmente queria mais: uma declaração inequívoca de que episódios como aquele não se repetiriam. O pedido foi feito pelo secretário-geral de Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, ao embaixador francês em Brasília, Alain Rouquié, na segunda-feira passada.
Para o Brasil e para boa parte da mídia francesa, o avião foi usado em uma tentativa de resgate, em Manaus, da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt (candidata a presidente em 2002), sequestrada pelas Farc, guerrilha terrorista da Colômbia. E a França não consultou o governo brasileiro previamente.
O Itamaraty afirmou, porém, que as explicações da nota são as mesmas dadas por De Villepin e que considera o caso encerrado do ponto de vista diplomático. ""O Itamaraty não dispõe de elementos para questionar a missão do avião francês", disse o ministério.
A irritação do Brasil com o caso extrapolou o Itamaraty e virou uma posição de governo e de soberania nacional, envolvendo a Presidência e os ministérios da Defesa e da Justiça. Em dois gabinetes brasileiros, a Folha ouviu a mesma expressão: que o país foi tratado pela França como "terra de ninguém".
No primeiro semestre, o Brasil e a França foram parceiros na condenação explícita à invasão do Iraque -comandada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.
A crise diplomática teve início no dia 9 de julho, quando um avião militar Hércules C-130 pousou em Manaus com o objetivo aparente de resgatar Betancourt.
Esta, que tem cidadanias colombiana e francesa, foi colega de turma de De Villepin na França. Estudaram no renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris.
O avião desceu no Brasil numa quarta-feira, dia 9 de julho, e De Villepin só telefonou para Amorim três dias depois, no sábado, 12 de julho. Mesmo assim, não fez nenhuma referência ao objetivo da missão, à tripulação (vinculada a serviços secretos, segundo a imprensa francesa) e à relação com o país vizinho.
O governo brasileiro só teve conhecimento da gravidade da situação quando a Polícia Federal relatou a presença do avião no país ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
A partir daí, a história foi parar no Itamaraty, no Ministério da Defesa e, finalmente, no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A decisão foi "jogar duro".
O embaixador da França no Brasil, Rouquié, foi chamado duas vezes para prestar esclarecimentos. Na segunda, por causa da versão, divulgada sobretudo pela imprensa francesa, de que, na verdade, o Brasil fora, sim, informado previamente. Algo que toda a cúpula do governo nega.
Ontem, o Itamaraty disse não ter conhecimento do pedido de audiência da irmã de Ingrid, Astrid, com autoridades brasileiras.


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