|
Próximo Texto | Índice
CRISE
Chanceler francês telefona para colega brasileiro, mas nota da Chancelaria francesa desagrada ao governo do Brasil
Paris desculpa-se de uso de território do Brasil
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O chanceler francês, Dominique
de Villepin, telefonou ontem para
o ministro Celso Amorim (Itamaraty) para pedir desculpas pelo
uso do território brasileiro por
um avião militar francês. Depois,
divulgou nota oficial que, inicialmente, desagradou ao governo
brasileiro, mas acabou sendo
aceita para encerrar o incidente
diplomático.
A nota da Chancelaria da França classifica o vôo de "missão médica" -versão que o Brasil não
aceita- e diz que Villepin estava
"arrependido" de não ter avisado
antecipadamente, como deveria,
o seu colega Amorim.
O Itamaraty inicialmente queria
mais: uma declaração inequívoca
de que episódios como aquele não
se repetiriam. O pedido foi feito
pelo secretário-geral de Relações
Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, ao embaixador francês
em Brasília, Alain Rouquié, na segunda-feira passada.
Para o Brasil e para boa parte da
mídia francesa, o avião foi usado
em uma tentativa de resgate, em
Manaus, da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt (candidata a presidente em 2002), sequestrada pelas Farc, guerrilha
terrorista da Colômbia. E a França não consultou o governo brasileiro previamente.
O Itamaraty afirmou, porém,
que as explicações da nota são as
mesmas dadas por De Villepin e
que considera o caso encerrado
do ponto de vista diplomático. ""O
Itamaraty não dispõe de elementos para questionar a missão do
avião francês", disse o ministério.
A irritação do Brasil com o caso
extrapolou o Itamaraty e virou
uma posição de governo e de soberania nacional, envolvendo a
Presidência e os ministérios da
Defesa e da Justiça. Em dois gabinetes brasileiros, a Folha ouviu a
mesma expressão: que o país foi
tratado pela França como "terra
de ninguém".
No primeiro semestre, o Brasil e
a França foram parceiros na condenação explícita à invasão do
Iraque -comandada pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido.
A crise diplomática teve início
no dia 9 de julho, quando um
avião militar Hércules C-130 pousou em Manaus com o objetivo
aparente de resgatar Betancourt.
Esta, que tem cidadanias colombiana e francesa, foi colega de
turma de De Villepin na França.
Estudaram no renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris.
O avião desceu no Brasil numa
quarta-feira, dia 9 de julho, e De
Villepin só telefonou para Amorim três dias depois, no sábado, 12
de julho. Mesmo assim, não fez
nenhuma referência ao objetivo
da missão, à tripulação (vinculada
a serviços secretos, segundo a imprensa francesa) e à relação com o
país vizinho.
O governo brasileiro só teve conhecimento da gravidade da situação quando a Polícia Federal
relatou a presença do avião no
país ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
A partir daí, a história foi parar
no Itamaraty, no Ministério da
Defesa e, finalmente, no gabinete
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. A decisão foi "jogar duro".
O embaixador da França no
Brasil, Rouquié, foi chamado
duas vezes para prestar esclarecimentos. Na segunda, por causa da
versão, divulgada sobretudo pela
imprensa francesa, de que, na verdade, o Brasil fora, sim, informado previamente. Algo que toda a
cúpula do governo nega.
Ontem, o Itamaraty disse não
ter conhecimento do pedido de
audiência da irmã de Ingrid, Astrid, com autoridades brasileiras.
Próximo Texto: Padres brasileiro e colombiano participaram de ações de resgate Índice
|