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Padres brasileiro e colombiano
participaram de ações de resgate
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Um padre brasileiro e outro colombiano dizem ter ajudado a família da ex-senadora colombiana
Ingrid Betancourt -sequestrada
há 17 meses pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)- em tentativas de resgate na cidade de Santo Antônio do
Içá (AM), na Amazônia brasileira.
Segundo o padre colombiano
Hector Gonzalo Arango, a primeira tentativa ocorreu no dia 12
de julho, e a segunda, no dia 14.
Arango, 40, é pároco na catedral
de La Paz, na cidade de Letícia,
que fica na fronteira com o Brasil,
ao lado de Tabatinga (AM).
As duas missões de resgate foram frustradas, segundo ele, pela
presença inesperada de militares
brasileiros na área, o que teria assustado os guerrilheiros das Farc.
Arango diz que, em 3 de julho,
recebeu de um camponês uma
mensagem das Farc em que ficou
combinado o local para o resgate.
De acordo com ele, duas datas
comemorativas foram marcadas
para o anúncio da libertação: 14
de julho (Revolução Francesa) e
20 de julho (Independência da
Colômbia).
Em entrevista por telefone à
Agência Folha, ontem, Arango
disse que levou a Santo Antônio
do Içá a irmã de Ingrid, Astrid Betancourt, no dia 9 de julho. Ele ficou com ela na cidade até 14 de julho, quando a levou de volta a Letícia, depois do fracasso da primeira tentativa de resgate.
No mesmo dia, voltou à cidade
brasileira com o marido da sequestrada, Juan Carlos Lecompte,
passando por São Paulo de Olivença, onde pediu a ajuda do padre brasileiro Pedro César do
Amaral Vieira, 40, pároco da diocese de São Paulo de Olivença.
Os três seguiram de avião ainda
no dia 14 para Santo Antônio do
Içá. O padre Vieira voltou no mesmo dia para sua cidade, por acreditar que estava sendo monitorado pela Polícia Federal e pelo
Exército.
O padre Arango e Lecompte ficaram em Santo Antônio do Içá
até 22 de julho, esperando, sem
sucesso, um contato das Farc.
Segundo Arango, a família de
Betancourt entregou à guerrilha
US$ 2.500 para custeio de transporte até o Brasil.
"Ingrid Betancourt estava em
um acampamento da guerrilha
em Tarapacá, no rio Putumayo",
disse Arango.
No Brasil, o rio Putumayo leva o
nome de Içá. Arango afirma que,
para ser libertada, Ingrid seria levada em uma voadeira (barco
motorizado) para Santo Antônio
do Içá. Depois, seguiria com ele e
a irmã dela para São Paulo de Olivença.
"Lá, um avião [da Rico Linha
Aéreas] contratado por membros
do governo francês a levaria a Manaus, de onde, provavelmente,
partiria para Bogotá", afirmou
Arango.
O padre Vieira diz que o resgate
custaria US$ 1 milhão. "O padre
Arango me disse que eles [as Farc]
exigiram US$ 1 milhão, não exigiram armas nem troca por algum
preso político", afirmou o padre
brasileiro.
Arango nega essa informação.
Diz não saber se havia recompensa pela libertação de Ingrid.
O delegado da Polícia Federal
Mauro Spósito, coordenador da
Operação Cobra [junção das iniciais das palavras Colômbia e Brasil], que atua na região, confirma
que Vieira ajudou os colombianos.
"Hoje eles [as Farc] perceberam
que Ingrid Betancourt é um trunfo valioso, a ponto de o governo
da França mandar um avião [para
Manaus] para isso [sua libertação]", disse Spósito.
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