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São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2003

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Padres brasileiro e colombiano participaram de ações de resgate

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Um padre brasileiro e outro colombiano dizem ter ajudado a família da ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt -sequestrada há 17 meses pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)- em tentativas de resgate na cidade de Santo Antônio do Içá (AM), na Amazônia brasileira.
Segundo o padre colombiano Hector Gonzalo Arango, a primeira tentativa ocorreu no dia 12 de julho, e a segunda, no dia 14. Arango, 40, é pároco na catedral de La Paz, na cidade de Letícia, que fica na fronteira com o Brasil, ao lado de Tabatinga (AM).
As duas missões de resgate foram frustradas, segundo ele, pela presença inesperada de militares brasileiros na área, o que teria assustado os guerrilheiros das Farc.
Arango diz que, em 3 de julho, recebeu de um camponês uma mensagem das Farc em que ficou combinado o local para o resgate.
De acordo com ele, duas datas comemorativas foram marcadas para o anúncio da libertação: 14 de julho (Revolução Francesa) e 20 de julho (Independência da Colômbia).
Em entrevista por telefone à Agência Folha, ontem, Arango disse que levou a Santo Antônio do Içá a irmã de Ingrid, Astrid Betancourt, no dia 9 de julho. Ele ficou com ela na cidade até 14 de julho, quando a levou de volta a Letícia, depois do fracasso da primeira tentativa de resgate.
No mesmo dia, voltou à cidade brasileira com o marido da sequestrada, Juan Carlos Lecompte, passando por São Paulo de Olivença, onde pediu a ajuda do padre brasileiro Pedro César do Amaral Vieira, 40, pároco da diocese de São Paulo de Olivença.
Os três seguiram de avião ainda no dia 14 para Santo Antônio do Içá. O padre Vieira voltou no mesmo dia para sua cidade, por acreditar que estava sendo monitorado pela Polícia Federal e pelo Exército.
O padre Arango e Lecompte ficaram em Santo Antônio do Içá até 22 de julho, esperando, sem sucesso, um contato das Farc.
Segundo Arango, a família de Betancourt entregou à guerrilha US$ 2.500 para custeio de transporte até o Brasil.
"Ingrid Betancourt estava em um acampamento da guerrilha em Tarapacá, no rio Putumayo", disse Arango.
No Brasil, o rio Putumayo leva o nome de Içá. Arango afirma que, para ser libertada, Ingrid seria levada em uma voadeira (barco motorizado) para Santo Antônio do Içá. Depois, seguiria com ele e a irmã dela para São Paulo de Olivença.
"Lá, um avião [da Rico Linha Aéreas] contratado por membros do governo francês a levaria a Manaus, de onde, provavelmente, partiria para Bogotá", afirmou Arango.
O padre Vieira diz que o resgate custaria US$ 1 milhão. "O padre Arango me disse que eles [as Farc] exigiram US$ 1 milhão, não exigiram armas nem troca por algum preso político", afirmou o padre brasileiro.
Arango nega essa informação. Diz não saber se havia recompensa pela libertação de Ingrid.
O delegado da Polícia Federal Mauro Spósito, coordenador da Operação Cobra [junção das iniciais das palavras Colômbia e Brasil], que atua na região, confirma que Vieira ajudou os colombianos.
"Hoje eles [as Farc] perceberam que Ingrid Betancourt é um trunfo valioso, a ponto de o governo da França mandar um avião [para Manaus] para isso [sua libertação]", disse Spósito.


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