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Em Haia, Karadzic diz que acordo com EUA forçou fuga
Ex-líder sérvio acusado de genocídio alega que negociador americano prometeu imunidade em troca de desaparecimento
Enviado de Bill Clinton para negociar o fim da Guerra da Bósnia nega ter feito pacto; próxima audiência do caso será no próximo dia 29
DA REDAÇÃO
Sem a longa cabeleira e a barba branca com as quais se disfarçou nos anos em que esteve
foragido, o ex-líder sérvio Radovan Karadzic fez ontem sua
primeira apresentação no Tribunal Penal Internacional para
a ex-Iugoslávia, na qual afirmou ao juiz que não se entregou à Justiça antes devido a um
acordo feito com representantes dos Estados Unidos.
Karadzic, 63, passou mais de
12 anos foragido. Foi capturado
no último dia 21 e extraditado
de Belgrado para Haia (Holanda) na terça-feira. É acusado
pela morte de 8.000 homens
muçulmanos em Srebrenica e
pelas cerca de 12 mil mortes no
cerco de 44 meses a Sarajevo na
Guerra da Bósnia (1992-1995).
O ex-líder alegou que Richard Holbrooke, enviado do
ex-presidente dos EUA Bill
Clinton (1993-2001) para negociações de paz na Bósnia, ofereceu-se para retirar a denúncia
internacional contra ele sob a
condição de que desaparecesse
da vida pública. Karadzic também sugeriu que agentes dos
EUA ameaçaram sua vida para
obrigá-lo a "desaparecer".
"Não estou questionando o
tribunal", afirmou. "Quero explicar por que estou me apresentando agora e não em 1996,
1997 ou 1998, quando eu gostaria de ter vindo, mas (...) estava
com a vida ameaçada."
A sugestão de acordo não é
nova e já foi negada por Holbrooke antes. O americano foi o
negociador dos EUA para o
Acordo de Dayton, de 1995, que
marcou o fim da guerra e criou
dentro do país duas entidades
autônomas, a Federação Croata-Muçulmana e a República
Sérvia da Bósnia.
Defesa própria
Como esperado, Karadzic
não se declarou culpado nem
inocente ontem, indicando que
pretende esperar até o fim do
prazo legal de 30 dias para tal. O
juiz do caso, Alphons Orie, disse que, se ele não se decidir até
o próximo dia 29 -data definida para a próxima audiência-,
terá a declaração inicial de inocência imposta pelo tribunal.
Frente ao juiz, Karadzic se
mostrou relaxado e por vezes
desafiador. Indagado sobre se
sua família estava ciente de onde ele se encontra, respondeu,
em tom de humor: "Não creio
que haja alguém no mundo que
ignore minha detenção".
Karadzic confirmou ainda
que pretende atuar como seu
próprio advogado, seguindo o
exemplo do presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que
morreu em Haia em 2006 antes
do fim de seu julgamento por
crimes de guerra.
Os promotores em Haia querem impedir que ele faça a própria defesa para evitar lentidão
no processo, mas um membro
da equipe de Karadzic disse que
ele está disposto a fazer greve
de fome pelo que pleiteia.
O acusado disse também que
fora "seqüestrado" por homens
em roupas civis e permaneceu
detido por três dias antes de
sua prisão ser anunciada. Hoje,
Karadzic está em uma cela no
centro de detenções do tribunal, em Scheveningen, perto de
Haia, que já abriga outros 37
suspeitos de crimes de guerra.
Ele responderá a 11 acusações de genocídio, crimes de
guerra e crimes contra a humanidade. O promotor do caso,
Serge Brammertz, afirmou que
tentará emendar a denúncia
para levar em consideração
provas que emergiram em outros julgamentos de crimes de
guerra, para "apresentar o caso
de forma eficiente".
Ele não deu detalhes sobre as
emendas. Milosevic, quando foi
julgado, tentou argumentar
que as atrocidades cometidas
na Guerra da Bósnia eram de
responsabilidade de Karadzic,
sobre o qual não tinha poder.
Com agências internacionais
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