São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Em Haia, Karadzic diz que acordo com EUA forçou fuga

Ex-líder sérvio acusado de genocídio alega que negociador americano prometeu imunidade em troca de desaparecimento

Enviado de Bill Clinton para negociar o fim da Guerra da Bósnia nega ter feito pacto; próxima audiência do caso será no próximo dia 29


DA REDAÇÃO

Sem a longa cabeleira e a barba branca com as quais se disfarçou nos anos em que esteve foragido, o ex-líder sérvio Radovan Karadzic fez ontem sua primeira apresentação no Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, na qual afirmou ao juiz que não se entregou à Justiça antes devido a um acordo feito com representantes dos Estados Unidos.
Karadzic, 63, passou mais de 12 anos foragido. Foi capturado no último dia 21 e extraditado de Belgrado para Haia (Holanda) na terça-feira. É acusado pela morte de 8.000 homens muçulmanos em Srebrenica e pelas cerca de 12 mil mortes no cerco de 44 meses a Sarajevo na Guerra da Bósnia (1992-1995).
O ex-líder alegou que Richard Holbrooke, enviado do ex-presidente dos EUA Bill Clinton (1993-2001) para negociações de paz na Bósnia, ofereceu-se para retirar a denúncia internacional contra ele sob a condição de que desaparecesse da vida pública. Karadzic também sugeriu que agentes dos EUA ameaçaram sua vida para obrigá-lo a "desaparecer".
"Não estou questionando o tribunal", afirmou. "Quero explicar por que estou me apresentando agora e não em 1996, 1997 ou 1998, quando eu gostaria de ter vindo, mas (...) estava com a vida ameaçada."
A sugestão de acordo não é nova e já foi negada por Holbrooke antes. O americano foi o negociador dos EUA para o Acordo de Dayton, de 1995, que marcou o fim da guerra e criou dentro do país duas entidades autônomas, a Federação Croata-Muçulmana e a República Sérvia da Bósnia.

Defesa própria
Como esperado, Karadzic não se declarou culpado nem inocente ontem, indicando que pretende esperar até o fim do prazo legal de 30 dias para tal. O juiz do caso, Alphons Orie, disse que, se ele não se decidir até o próximo dia 29 -data definida para a próxima audiência-, terá a declaração inicial de inocência imposta pelo tribunal.
Frente ao juiz, Karadzic se mostrou relaxado e por vezes desafiador. Indagado sobre se sua família estava ciente de onde ele se encontra, respondeu, em tom de humor: "Não creio que haja alguém no mundo que ignore minha detenção".
Karadzic confirmou ainda que pretende atuar como seu próprio advogado, seguindo o exemplo do presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, que morreu em Haia em 2006 antes do fim de seu julgamento por crimes de guerra.
Os promotores em Haia querem impedir que ele faça a própria defesa para evitar lentidão no processo, mas um membro da equipe de Karadzic disse que ele está disposto a fazer greve de fome pelo que pleiteia.
O acusado disse também que fora "seqüestrado" por homens em roupas civis e permaneceu detido por três dias antes de sua prisão ser anunciada. Hoje, Karadzic está em uma cela no centro de detenções do tribunal, em Scheveningen, perto de Haia, que já abriga outros 37 suspeitos de crimes de guerra.
Ele responderá a 11 acusações de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. O promotor do caso, Serge Brammertz, afirmou que tentará emendar a denúncia para levar em consideração provas que emergiram em outros julgamentos de crimes de guerra, para "apresentar o caso de forma eficiente".
Ele não deu detalhes sobre as emendas. Milosevic, quando foi julgado, tentou argumentar que as atrocidades cometidas na Guerra da Bósnia eram de responsabilidade de Karadzic, sobre o qual não tinha poder.


Com agências internacionais


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