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Vietnamitas almejam ser a China em versão "light"
Com mão-de-obra abundante, país atrai investimentos estrangeiros, mas investe mais na área social para conter desigualdade
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A HANÓI
Cerca de mil fábricas se mudaram nos últimos 12 meses do
sul da China para o Vietnã -
tanto as estimativas chinesas
quanto vietnamitas apontam
que esse número duplicará no
próximo ano. O salário médio
do empregado vietnamita nas
fábricas de calçados e têxteis é
de US$ 70 por mês, metade do
que é pago na China.
O Vietnã se parece com a
China de 20 anos atrás - fábricas por todo lado e mão-de-obra barata em abundância.
Mas só entre janeiro e maio
deste ano 400 greves aconteceram nas fábricas vietnamitas,
exigindo aumentos de salários
contra a inflação em alta no
país -80% dos protestos foram
em fábricas de proprietários
chineses e taiwaneses.
"Não queremos ser a China
ou a América Latina, com uma
desigualdade social crescente,
nem o Japão, onde se trabalha
60 horas por semana, que não
combina com o nosso ritmo de
vida", disse à Folha Tran Dinh
Thien, diretor do Instituto de
Economia do Vietnã, principal
centro de estudos econômicos
do país, ligado ao governo.
"Temos dez anos para capacitar nossa população, melhorar a infra-estrutura e diminuir
a burocracia para atrair empresas que fabriquem produtos de
maior valor agregado."
Investimentos
O Vietnã recebeu US$ 20 bilhões de investimentos estrangeiros no ano passado, uma
enormidade em relação ao PIB
de US$ 70 bilhões. A empresa
Intel anunciou o investimento
de US$ 1 bilhão em uma fábrica
de chips em Ho Chi Minh (a antiga Saigon). Os 3 milhões de
vietnamitas que moram no exterior mandaram US$ 4,6 bilhões em remessas.
"Nosso país se chamava Indochina, está estrategicamente
entre a Índia, a China e os demais Tigres Asiáticos, acaba recebendo investimentos casados com os vizinhos", diz
Thien. Tantos dólares, mais a
alta dos preços do petróleo e
alimentos e o superaquecimento da economia local, provocam
uma inflação crescente de 27%
ao ano - o governo tenta desacelerar o crescimento, que deve
ficar em 6,5% neste ano. A economia cresceu 8% em média
nos últimos 5 anos.
Depois do fracasso da economia planificada, a abertura econômica veio nos anos 80, mas
só nos 90 os investimentos começaram a chegar. Cerca de
3.000 empresas foram privatizadas, e o governo ainda possui
outras mil, que pretende ir vendendo nos próximos anos.
O Japão é o maior investidor
no país, e os EUA são o maior
destino para exportações. "Não
esquecemos o passado, mas
não vamos deixar que ele atrapalhe nosso desenvolvimento",
diz o reitor da Universidade de
Hanói, Nguyen Xuan Vang.
Ao contrário da China, o país
ainda não exibe obras de infra-estrutura vistosas - tem apenas dois aeroportos internacionais, em Hanói e Ho Chi Minh.
Há poucos arranha-céus e a população trocou as bicicletas por
motos - há poucos carros nas
ruas de Hanói, que tem 1,8 milhão de motocicletas.
Mas o gasto em educação e
saúde é o dobro do das muito
mais ricas China ou Tailândia.
Seus programas sociais foram
premiados pela ONU - tanto a
mortalidade infantil quanto o
analfabetismo no Vietnã já são
menores do que no Brasil.
Um diplomata que conhece
bem os dois países diz que no
Vietnã tudo é mais moderado.
O governo é mais descentralizado e os deputados da Assembléia Nacional são eleitos por
voto direto, apesar do país continuar a ser uma ditadura de
partido comunista único. Também há política de restrição da
natalidade -mas são permitidos dois filhos por casal. O país
tem 86 milhões de habitantes
em território menor que o do
Mato Grosso do Sul.
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