São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Vietnamitas almejam ser a China em versão "light"

Com mão-de-obra abundante, país atrai investimentos estrangeiros, mas investe mais na área social para conter desigualdade

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A HANÓI

Cerca de mil fábricas se mudaram nos últimos 12 meses do sul da China para o Vietnã - tanto as estimativas chinesas quanto vietnamitas apontam que esse número duplicará no próximo ano. O salário médio do empregado vietnamita nas fábricas de calçados e têxteis é de US$ 70 por mês, metade do que é pago na China.
O Vietnã se parece com a China de 20 anos atrás - fábricas por todo lado e mão-de-obra barata em abundância. Mas só entre janeiro e maio deste ano 400 greves aconteceram nas fábricas vietnamitas, exigindo aumentos de salários contra a inflação em alta no país -80% dos protestos foram em fábricas de proprietários chineses e taiwaneses.
"Não queremos ser a China ou a América Latina, com uma desigualdade social crescente, nem o Japão, onde se trabalha 60 horas por semana, que não combina com o nosso ritmo de vida", disse à Folha Tran Dinh Thien, diretor do Instituto de Economia do Vietnã, principal centro de estudos econômicos do país, ligado ao governo.
"Temos dez anos para capacitar nossa população, melhorar a infra-estrutura e diminuir a burocracia para atrair empresas que fabriquem produtos de maior valor agregado."

Investimentos
O Vietnã recebeu US$ 20 bilhões de investimentos estrangeiros no ano passado, uma enormidade em relação ao PIB de US$ 70 bilhões. A empresa Intel anunciou o investimento de US$ 1 bilhão em uma fábrica de chips em Ho Chi Minh (a antiga Saigon). Os 3 milhões de vietnamitas que moram no exterior mandaram US$ 4,6 bilhões em remessas.
"Nosso país se chamava Indochina, está estrategicamente entre a Índia, a China e os demais Tigres Asiáticos, acaba recebendo investimentos casados com os vizinhos", diz Thien. Tantos dólares, mais a alta dos preços do petróleo e alimentos e o superaquecimento da economia local, provocam uma inflação crescente de 27% ao ano - o governo tenta desacelerar o crescimento, que deve ficar em 6,5% neste ano. A economia cresceu 8% em média nos últimos 5 anos.
Depois do fracasso da economia planificada, a abertura econômica veio nos anos 80, mas só nos 90 os investimentos começaram a chegar. Cerca de 3.000 empresas foram privatizadas, e o governo ainda possui outras mil, que pretende ir vendendo nos próximos anos.
O Japão é o maior investidor no país, e os EUA são o maior destino para exportações. "Não esquecemos o passado, mas não vamos deixar que ele atrapalhe nosso desenvolvimento", diz o reitor da Universidade de Hanói, Nguyen Xuan Vang.
Ao contrário da China, o país ainda não exibe obras de infra-estrutura vistosas - tem apenas dois aeroportos internacionais, em Hanói e Ho Chi Minh. Há poucos arranha-céus e a população trocou as bicicletas por motos - há poucos carros nas ruas de Hanói, que tem 1,8 milhão de motocicletas.
Mas o gasto em educação e saúde é o dobro do das muito mais ricas China ou Tailândia. Seus programas sociais foram premiados pela ONU - tanto a mortalidade infantil quanto o analfabetismo no Vietnã já são menores do que no Brasil.
Um diplomata que conhece bem os dois países diz que no Vietnã tudo é mais moderado. O governo é mais descentralizado e os deputados da Assembléia Nacional são eleitos por voto direto, apesar do país continuar a ser uma ditadura de partido comunista único. Também há política de restrição da natalidade -mas são permitidos dois filhos por casal. O país tem 86 milhões de habitantes em território menor que o do Mato Grosso do Sul.


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