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Raúl adia reunião partidária crucial para futuro de Cuba
Dirigente diz que Congresso do PC pode ser o último com "históricos" no comando
Havana não dá nova data para encontro; Parlamento
tem reunião semestral hoje e pode anunciar medidas restritivas por causa da crise
DA REPORTAGEM LOCAL
O líder máximo de Cuba,
Raúl Castro, adiou indefinidamente a realização do Congresso do Partido Comunista, previsto para 2009 e que seria o
primeiro em 12 anos. Argumentou que é preciso preparar
a legenda porque provavelmente, "pelas leis da vida", será
o último encontro comandado
pelos líderes históricos da Revolução de 1959, a maioria com
mais de 70 anos.
O anúncio de Raúl, 78, foi publicado ontem nos jornais oficiais após reunião do Comitê
Central do partido. O Congresso do PC era amplamente esperado porque Raúl prometera
que lá seriam debatidas "mudanças estruturais e de conceito" no regime comunista.
O dirigente máximo disse
que "coisas muito sérias" estão
sendo analisadas sobre a economia. Defendeu debate "com
divergências saudáveis" e disse
que será preciso decidir as diretrizes do futuro pós-irmãos
Castro com a população.
Fórmulas novas
A maior crise econômica desde o fim da União Soviética
também foi tratada na reunião
do Comitê Central, diretório do
PC, com 113 membros.
O governo rebaixou de 2,5%
para 1,7% a estimativa de crescimento do PIB para 2009, mas
estudos independentes preveem números muito piores.
Sem acesso a instituições de
crédito por causa do embargo
dos EUA e com déficit comercial na casa dos 70%, Cuba atrasa pagamentos de fornecedores, raciona energia e comida.
E Havana prevê um 2010
"igualmente difícil". No texto
de ontem, Raúl pede compreensão com as medidas restritivas "difíceis, nada gratas,
mas simplesmente inadiáveis".
O Parlamento cubano faz hoje a
primeira de suas duas reuniões
anuais e espera-se que sejam
impostas ainda mais restrições.
Não se descarta mudanças na
economia. Na reunião, Marino
Murillo Jorge, ministro da Economia, pregou a descentralização para setores geradores de
divisa e a "busca de fórmulas
novas" para estimular a produção. Nesta semana, o principal
comentarista econômico de
Cuba, Ariel Terrero, sugeriu
que o varejo e o setor de alimentação funcionariam melhor em mãos privadas.
Quadros e família
Já havia rumores de que o
Congresso do PC seria adiado.
Em primeiro lugar, porque o
encontro tem de tomar uma
decisão delicada: o que fazer
com o ex-ditador convalescente Fidel Castro, que foi substituído por Raúl em 2008 na Presidência do Conselho de Estado, mas manteve o cargo mais
alto da hierarquia do país, o de
primeiro secretário-geral do
partido. Seu irmão é o segundo.
Para analistas como o sociólogo cubano Haroldo Dilla, o
melhor para Raúl seria fazer a
reunião após a morte do irmão,
tido como melhor de saúde pelos presidentes que o visitam.
Há outro problema: Raúl fala
em "preparar o partido" quando ainda reverberam os expurgos, em março, de duas promissoras lideranças de fora da velha guarda: o ex-vice-presidente Carlos Lage e o ex-chanceler
Felipe Pérez Roque.
Com eles, acabaram sendo
afastados vários aliados seus na
burocracia, o que Raúl tenta
compensar buscando lideranças jovens nas Províncias.
Além disso, o governo tem
feito circular entre militantes
um vídeo no qual condena a
deslealdade dos defenestrados,
apanhados pela espionagem fazendo comentários jocosos sobre um dos ícones dos "históricos", o vice-presidente Ramón
Machado Ventura, 79.
O vídeo pode ser considerado
um indicativo de que Raúl pretende enviar uma mensagem
disciplinadora e reforçadora de
sua autoridade antes de enfrentar a discussão de propostas
apresentadas nos congressos.
Desde antes do expurgo, já
circulavam propostas nos quadros rasos do PC e na academia.
O grupo do ex-diplomata Pedro
Campos, ainda que sem grande
impacto, abriu debate na internet: cobra a permissão para a
formação de correntes internas
no PC, eleição direta no nível
municipal e reforma do sistema
eleitoral, além de um Estado
"coadjuvante" na economia.
Há também quem aposte que
o adiamento ajudará Raúl a fortalecer politicamente a segunda geração dos Castro -seu filho, que o assessora; a sexóloga
Mariela Castro; e o mais velho
dos filhos de Fidel, mais presentes na mídia oficial e em encontros com estrangeiros- antes do Congresso que tem a pretensão de marcar a virada geracional e garantir o futuro do regime.
(FLÁVIA MARREIRO)
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