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Zelaya agora aposta em mobilização interna
Mulher de presidente deposto, que congelou planos de tentar voltar a Honduras, lidera manifestações contra golpistas
"Vamos cercar as cidades, estamos tentando gerar caos", diz sindicalista que apoia Zelaya, resumindo estratégia a ser adotada
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA
(HONDURAS)
Uma semana depois de se
instalar na fronteira Nicarágua-Honduras, o presidente
hondurenho deposto Manuel
Zelaya, aparentemente desistiu
de voltar ao país sem um acordo prévio com o governo interino e aposta novamente na mobilização interna para reassumir o poder.
Pelo segundo dia consecutivo, Tegucigalpa foi palco ontem
de uma relativamente grande
manifestação pró-Zelaya. Alguns milhares de pessoas marcharam até o Congresso hondurenho, onde gritaram "assassinos" para os militares e policiais que defendiam o edifício.
Diferentemente do dia anterior, quando o professor Roger
Abraham Vallejo levou um tiro
na cabeça -ele permanecia internado em coma-, não houve
confrontos entre forças de segurança e manifestantes.
A marcha de ontem contou
com o apoio da mulher de Zelaya, Xiomara Castro, que deixou
a zona de fronteira, onde ficou a
cerca de 40 km de distância do
presidente deposto. Em discurso, ela pediu "calma e paciência" aos manifestantes.
"Acho que as pessoas estão
com mais cólera porque estão
matando gente", disse a estudante de psicologia Amparo
Degrandes, 19, que protestava
diante do Congresso ao lado de
outros cinco universitários.
O próprio Zelaya passou os
últimos dois dias na capital Manágua, após cinco dias na cidade nicaraguense de Ocotal, a 25
km da fronteira.
Em entrevista a um canal de
TV nicaraguense, Zelaya voltou
a afirmar em Manágua que, se
não for restituído, "virá a violência generalizada".
"O presidente está levando
em conta as sugestões do exterior para não entrar no país enquanto não houver segurança",
disse à Folha o sindicalista
Milton Bardales, vinculado ao
poderoso Colégio Profissional
União Magisterial de Honduras (Coprumh). "A estratégia
agora é tomar as cidades."
Bardales disse que, na semana que vem, haverá uma grande "peregrinação" até as duas
principais cidades do país, San
Pedro Sula e Tegucigalpa. "Vamos cercar as cidades, estamos
tentando gerar caos", afirmou.
Apesar de a fronteira estar
menos tensa, o governo interino de Roberto Micheletti mantém cerca de 3.000 policiais e
militares e um rígido toque de
recolher na área -ontem, a
medida foi suspensa no restante do país. Já o fluxo de caminhões e de viajantes está mais
flexível.
As dificuldades para chegar
até o importante porto hondurenho de Cortés têm gerado
críticas dos empresários nicaraguenses e de líderes oposicionistas, que pressionam o
presidente Daniel Ortega a tirar Zelaya da região.
Apesar de já durar mais de
um mês, a crise política ainda
não é sentida com força na economia hondurenha, com a
grande exceção do turismo.
Os protestos de ontem não
impediram que o comércio em
Tegucigalpa funcionasse normalmente, salvo nos arredores
do Congresso.
Micheletti
Em aparente resposta a relatos na imprensa internacional,
de que já admitiria o retorno de
Zelaya, o presidente interino
voltou a dizer que "sob nenhuma circunstância o deixaremos
tomar posse do governo".
No dia 28 de junho, Zelaya foi
detido e expulso do país por militares, sob a acusação de tentar
convocar uma Constituinte
apesar do veto da Justiça e do
Congresso. Amanhã, ele completa cinco semanas no exílio.
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