São Paulo, sábado, 01 de agosto de 2009

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Zelaya agora aposta em mobilização interna

Mulher de presidente deposto, que congelou planos de tentar voltar a Honduras, lidera manifestações contra golpistas

"Vamos cercar as cidades, estamos tentando gerar caos", diz sindicalista que apoia Zelaya, resumindo estratégia a ser adotada


FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA (HONDURAS)

Uma semana depois de se instalar na fronteira Nicarágua-Honduras, o presidente hondurenho deposto Manuel Zelaya, aparentemente desistiu de voltar ao país sem um acordo prévio com o governo interino e aposta novamente na mobilização interna para reassumir o poder.
Pelo segundo dia consecutivo, Tegucigalpa foi palco ontem de uma relativamente grande manifestação pró-Zelaya. Alguns milhares de pessoas marcharam até o Congresso hondurenho, onde gritaram "assassinos" para os militares e policiais que defendiam o edifício.
Diferentemente do dia anterior, quando o professor Roger Abraham Vallejo levou um tiro na cabeça -ele permanecia internado em coma-, não houve confrontos entre forças de segurança e manifestantes.
A marcha de ontem contou com o apoio da mulher de Zelaya, Xiomara Castro, que deixou a zona de fronteira, onde ficou a cerca de 40 km de distância do presidente deposto. Em discurso, ela pediu "calma e paciência" aos manifestantes.
"Acho que as pessoas estão com mais cólera porque estão matando gente", disse a estudante de psicologia Amparo Degrandes, 19, que protestava diante do Congresso ao lado de outros cinco universitários.
O próprio Zelaya passou os últimos dois dias na capital Manágua, após cinco dias na cidade nicaraguense de Ocotal, a 25 km da fronteira.
Em entrevista a um canal de TV nicaraguense, Zelaya voltou a afirmar em Manágua que, se não for restituído, "virá a violência generalizada".
"O presidente está levando em conta as sugestões do exterior para não entrar no país enquanto não houver segurança", disse à Folha o sindicalista Milton Bardales, vinculado ao poderoso Colégio Profissional União Magisterial de Honduras (Coprumh). "A estratégia agora é tomar as cidades."
Bardales disse que, na semana que vem, haverá uma grande "peregrinação" até as duas principais cidades do país, San Pedro Sula e Tegucigalpa. "Vamos cercar as cidades, estamos tentando gerar caos", afirmou.
Apesar de a fronteira estar menos tensa, o governo interino de Roberto Micheletti mantém cerca de 3.000 policiais e militares e um rígido toque de recolher na área -ontem, a medida foi suspensa no restante do país. Já o fluxo de caminhões e de viajantes está mais flexível.
As dificuldades para chegar até o importante porto hondurenho de Cortés têm gerado críticas dos empresários nicaraguenses e de líderes oposicionistas, que pressionam o presidente Daniel Ortega a tirar Zelaya da região.
Apesar de já durar mais de um mês, a crise política ainda não é sentida com força na economia hondurenha, com a grande exceção do turismo.
Os protestos de ontem não impediram que o comércio em Tegucigalpa funcionasse normalmente, salvo nos arredores do Congresso.

Micheletti
Em aparente resposta a relatos na imprensa internacional, de que já admitiria o retorno de Zelaya, o presidente interino voltou a dizer que "sob nenhuma circunstância o deixaremos tomar posse do governo".
No dia 28 de junho, Zelaya foi detido e expulso do país por militares, sob a acusação de tentar convocar uma Constituinte apesar do veto da Justiça e do Congresso. Amanhã, ele completa cinco semanas no exílio.


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