São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Refugiados causavam preocupação ao Brasil

DA REDAÇÃO

Os documentos liberados pelo Departamento de Estado revelam a dimensão do problema dos refugiados argentinos no Brasil nos anos 70. O caso de Guillermo Torres Castaños é ilustrativo da situação de mais de mil pessoas que, em 1977, passavam por circunstâncias semelhantes.
Em agosto de 77, Belela Herrera, então representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) no Rio, disse ao cônsul dos EUA na cidade que a ONU já havia transferido 52 refugiados argentinos a outros países. Outros 200 casos de argentinos que procuraram o Acnur para conseguir chegar à Europa ou aos EUA estavam em andamento.
As comunicações diplomáticas americanas trazem revelações sobre a política do regime militar do Brasil -à época sob o comando de Ernesto Geisel -com relação aos refugiados. Telegrama da embaixada em Brasília dizia: "O crescente número de refugiados argentinos causa dois problemas ao governo: a) medo de que contribuirão com os distúrbios políticos devido à sua suposta orientação esquerdista; e b) problemas sociais e econômicos devido ao desemprego no mercado local".
E continuava: "Embora pareça improvável que a política do Brasil tenha mudado com relação aos refugiados políticos, a imprevisível situação política e econômica tem resultado num tratamento mais rigoroso contra eles".
Na visão dos representantes americanos, o Brasil, em geral, respeitava os argentinos registrados no Acnur. "Os não-declarados, entretanto, que entraram como turistas e tentam se mesclar à população, continuam sujeitos a ser deportados como ilegais comuns. Ou, em alguns casos, são sujeitos à repatriação deliberada pelas autoridades locais de segurança no sul do Brasil."
Em alguns casos, o Brasil agia da forma relatada, repatriando refugiados à Argentina. Foi o caso de Cristina Glória Fiori de Vina, sequestrada em novembro de 1978 por policiais brasileiros acompanhados de um policial argentino em Uruguaiana. Segundo escreveu à época o cônsul americano em Porto Alegre, "as circunstâncias sugerem que ela tenha sido clandestinamente levada para a Argentina".



Texto Anterior: Regime militar: Argentino relata tortura em praia do Rio
Próximo Texto: 25 anos depois: "É impossível esquecer, tenho medo até hoje"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.