São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Deputado basco defende "direito à resistência"

DO ENVIADO A BAYONNE

Proibido na Espanha como partido político, o Batasuna permanece legal na França como associação. Em Bayonne, cidade da região basca francesa, fica o escritório do único deputado do partido no Parlamento Europeu, Koldo Gorostiaga, 62.
A Justiça espanhola vai pedir ao governo francês que feche o local. Há chances de que isso ocorra, desde que a França considere que a demanda tenha fundamento.
Gorostiaga nega que o Batasuna tenha transferido sua direção para Bayonne. "Aqui é uma instituição que representa o Parlamento Europeu no País Basco", disse à Folha. Leia trechos da entrevista.

Folha - O Batasuna mudou-se para este escritório?
Koldo Gorostiaga -
Não. Esta sala é alugada com fundos do Parlamento Europeu, que sabe perfeitamente de sua existência. É uma instituição que representa esse Parlamento no País Basco.

Folha - E onde está funcionando a direção de Batasuna?
Gorostiaga -
No meio do povo. Somos por definição um movimento não-convencional, uma força política com uma massa popular inquestionável que se caracteriza por desafiar uma determinada ordem política que os nega.

Folha - Quais as relações de fato entre Batasuna e ETA?
Gorostiaga -
As relações que nós temos ou tivemos com o ETA são semelhantes às que tiveram os demais partidos políticos e sindicatos. Se o Partido Socialista teve relações com o ETA, se o governo em 1998 mandou uma delegação dialogar com representantes do ETA, se os sindicatos afirmam que tiveram também, porque não podemos dizer que dentro de nosso partido há gente que teve contato com o ETA?

Folha - Por que o Batasuna nunca condena atentados do ETA?
Gorostiaga -
Todos os atentados realizados pelo ETA tiveram uma resposta política do Batasuna. Nunca houve silêncio. Nós apenas não dizemos o mesmo que os espanhóis, evidentemente.

Folha - Então o sr. condena o atentado de Santa Pola [que matou uma menina de seis anos e um homem de 50 no dia 4 de agosto, na costa sudeste da Espanha"?
Gorostiaga -
Nós não condenamos as decisões do ETA unilateralmente. Consideramos que isso seja resultado de uma ação política buscada pelo governo que fecha as vias políticas. Essa condenação iria agravar qualitativamente o processo. Nós nunca faremos nada que possa agravar esse problema. Faremos tudo para buscar uma solução política.

Folha - Não se pode deduzir disso que o Batasuna apóia o uso da violência?
Gorostiaga -
Não apoiamos a luta armada e não condenamos a luta armada, precisamente porque entendemos que seja resultado da ineficácia das vias políticas. Na declaração de direitos formulada em 1789 na França, está definido o direito de resistência à opressão. Se entendemos que há uma opressão, temos de aceitar que há um direito à resistência. Mas, apesar do que fizeram agora e o que vão continuar fazendo nos próximos meses, defendemos que a única via eficaz é a política.

Folha - A morte de uma menina é resistência à opressão?
Gorostiaga -
Não é. Foi um resultado que ninguém queria. Mas nós, do Batasuna, manifestamos nossa dor com esse resultado, bem como nossa solidariedade para com essa família.



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