São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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"Somos eleitos, mas sem direitos políticos"

DO ENVIADO A SAN SEBASTIÁN

O deputado Joseba Alvares Forcada, um dos representantes do Batasuna no Parlamento regional basco, considera que possa ser preso em breve. "No Batasuna, já assumimos que isso vai ocorrer. Já aconteceu antes. Tiram a imunidade parlamentar e prendem."
Nos últimos dias, ele e os demais políticos do Batasuna foram proibidos de falar em nome do partido, de se reunir e de convocar manifestações. A decisão do governo espanhol aboliu o Batasuna, mas preservou o mandato dos eleitos. Eles não poderão, contudo, apresentar novas candidaturas, nem mesmo em outras organizações.
"É uma situação absurda. Somos eleitos, mas sem direitos políticos. Em um ano vamos perder 860 eleitos, e em dois anos os 14 parlamentares. A nossa ilegalidade é um problema de toda a sociedade basca. Como vai funcionar um país onde 15% da população, que é a nossa média de eleitores, não pode votar em seus candidatos?", pergunta.
Forcada, 43, linguista, tem uma longa história no independentismo basco. Seu pai foi um dos fundadores do ETA, em 1959. Nos anos 60, deixou a organização terrorista. "Hoje, meu pai pensa que o ETA já cumpriu seu ciclo histórico e é preciso ultrapassar a posição violenta. Mas ele ainda continua independentista e socialista."
E o que pensa o deputado? "É preciso procurar as condições políticas para superar as expressões violentas no País Basco. Mas [o premiê espanhol, José María" Aznar não quer criar um cenário que supere a violência. Sua luta para colocar o Batasuna na ilegalidade é um modo de ele parar o processo de soberania", responde, em francês perfeito.
"Você sabe por que os bascos e os portugueses são bons marinheiros?", pergunta o professor de filosofia política Fito Rodriguez. "Porque, por terra, temos os espanhóis atrás de nós."
Como Forcada, Rodriguez é um homem culto, cuja inteligência está toda concentrada em refletir sobre a questão basca e as formas de luta pela soberania. Os dois já foram presos políticos. Rodriguez conta que foi torturado. "No País Basco é raro uma família não ter um membro que foi preso ou torturado. A tortura é uma prática espanhola desde a Inquisição", afirma.
Rodriguez levou o repórter da Folha a bares que servem de ponto de encontro para militantes do Batasuna, na Cidade Velha, a parte mais antiga de San Sebastián. Na noite de quinta-feira, havia o receio de que alguns locais fossem fechados. No dia seguinte, um restaurante foi lacrado.



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